FLASHES DE UMA VÉSPERA DE NATAL...

Agora a pouco, ainda madrugada, vinha eu subindo por uma famosa avenida de São Paulo.

Num semáforo, próximo a um parque, o lixo do meio fio me chamou a atenção e me fez tornar para o lado.

Ela estava lá, despertando num longo bocejo, sobre uma sucatada cadeira de rodas.

Pouco além dela os tímidos raios solares já se misturavam às luzes de Natal e nelas se refletiam, ali, nos piscas vindos duma gigante árvore decorativa que, ainda acesas, iluminavam sua face já conhecida das ruas, e muito desgastada pela vida.

Uma pomba suja, alheia a tudo, ciscava num recorte de solo rarefeito de grama, a procura dos restos de comida salpicados pelo chão e notei que uma garrafa pet de refrigerante rolava a esmo acelerada pelo vento.

Em frações de segundo, antes que o farol se abrisse, pude perceber que alguém, um homem cansado a passos bem trôpegos, dela se aproximava me sugerindo certa familiaridade.

Estendeu-lhe os braços e a cumprimentou num abraço longo...cujo aperto, pude sentir em mim.

Ela, sem titubear,aceitou o carinho do cumprimento.

Entendi que naquele instante,provavelmente,ela recebia efusivos votos de um Feliz Natal; e que a felicidade, tão subjetiva quanto a própria vida, pode ser compartilhada em qualquer tempo e lugar.

Rezei uma oração em pensamento, como sempre fazia ao subir aquela avenida e pedi a Deus que abençoasse as "portas' do nosso dia que amanhecia prefaciado pelas luzes de mais um Natal.