A MULHER DE BRANCO

Era véspera de Natal...

Eu a conheci num final de tarde.Quase terminando uma trilha de ECOTURISMO, sentia-me cansada e sedenta.Então, resolvi descansar entre as folhagens de um pequeno arbusto, a ouvir o canto suave das águas que percorriam caminhos terrestres do que já fora uma cachoeira.

Delicadamente se aproximou de mim.Sorriu-me.Ainda muito jovem, esbanjava um viço rosáceo na pele da face, e seu biótipo contrastava com a parca virgindade da mata atlântica.

Sentou-se ao meu lado, naquela terra molhada, sem se importar em manchar a roupa clara que vestia e que lhe ocultava o corpo.

O sol brilhara alto naquele dia,e apesar do frescor da mata,perguntei-lhe se não sentia calor.

Com um timbre de voz suave me respondeu:

-Calor? Muito... mas só no coração!

Começamos a conversar.Falamos de tudo.

Disse-lhe da minha paixão pela natureza, e de como me indigno frente ao progresso e ao 'PODER DA GRANA QUE CONSTRÓI E DESTRÓI COISAS BELAS".

Citei-lhe o dito, e opinei que nada cantou melhor a destruição do universo, do que esses versos de CAETANO VELOSO.

Sorriu-me mais uma vez.

-Há mistérios indecifráveis!

Antes mesmo que lhe perguntasse, continuou:

-Também gosto de estar aqui.Todos os anos , nessa época, passeio pelas trilhas para meditar.Aqui sempre oro muito.Aprendi que a oração transforma os caminhos e alimenta a fé.É nosso contacto direto com o PAI.E o mundo perdeu-se da fé.

Concordei.Perguntei-lhe se tinha famíla.

-Família? Não há quem não a tenha.Somos todos uma SAGRADA FAMÍLIA,e, há que se ter um pai e uma mãe, para se chegar até aqui!

-Filhos, perguntei?

-Tive um.

-Eu também, respondi.

-Uma menina... me afirmou sorrindo.

-Sim, uma menina.

-Tive um filho que valeu por todos!

-Muito trabalho? arrisquei.

-Eu o perdi para uma árdua missão.

-Soldado? estranhei.

-De justa causa.E silenciou uma lágrima.

O sol caía.Podia-se notar tênues raios de luz dourando os cabelos da jovem mulher.Senti sono.Bocejei.

-Olha, me desculpe, acho que o cansaço me venceu, disse-lhe envergonhada...

-Durma querida, e continue acreditando.

-Mas... tanto conversamos, e não ...como é o seu nome? perguntei sonolenta...o meu é Maria...

E já envolta numa claridade ofuscante, a jovem SENHORA esvaeceu-se na mata.

-MARIA...esse também é o meu nome...