PAPAI  NOEL  EXISTE
    
Quando criança, época da fantasia e do sonho, alimentava minh'alma com o desejo de ver Papai  Noel ao vivo e a cores. O bom velhinho tinha seu padestal no meu coração porque era bondoso demais. Era só seguir as regras da família e estudar o necessário para que ele chegasse na noite de 24 de dezembro a minha casa e me presenteasse com tudo o que pedira.
     Natal era a data em que minha casa ficava linda, não tão reluzente como as de hoje em dia, mas a chama do amor iluminava o meu lar ainda mais.
     Chegava dezembro, fazia minha  cartinha como de praxe e entregava ao meu pai com os pedidos feitos ao bom velhinho, para que ele não esquecesse  de colocá-la no correio. Papai abria um sorriso e dizia-me que  Papai Noel não poderia esquecer-se de mim porque tinha sido uma garotinha legal e, sobretudo, estudiosa. O que me intrigava mais era saber como o velhinho chegava até nós sem bater na casa, nem nos incomodava enquanto dormíamos. Bastava que eu colocasse meus sapatinhos de pulseira na janela e já era "dado o sinal" para que ali chegasse. Nem me recordava que tinha sido colocada uma carta no correio e...lógico que "ele" tinha o meu endereço.
     Sempre perguntava a meu pai como se dava a chegada de Papai Noel à casa das crianças. Papai respondía-me:
-Papai Noel vem do céu e penetra pelo telhado das casas. Conseguia, então, convencer sua filhinha do coração da magia do Papai Noel.
     O nosso lar irradiava mais amor por essa ocasião. Mamãe, a minha muito dedicada mãe, caprichava nas iguarias. Havia o peru de Natal, os bolinhos de bacalhau e o gostoso vinho português tinto, o preferido de meu pai. Eu e meu irmão adorávamos as tâmaras e pedíamos também um gole de sangria (bebida preparada com champagne e frutas), mas mamãe apenas dizia: - Criança não bebe! Só nos restava tomar guaraná e comer as saborosas iguarias do Natal.
     Eu e meu irmão, conforme as outras crianças , ficávamos eufóricos com a bondade daquele misterioso velhinho. E, no dia seguinte do dia 24, meninas passeavam com suas bonecas na calçada e meninos exibiam seus velocípedes ou bicicletas com muito garbo e satisfação, selando aquele momento mágico com a inocência própria da idade.
     O meu pai adornava um enorme pinheiro natural com presentes e mais presentes. Dessa tarefa participavam eu, meu irmão e minha babá. Lembro que precisávamos subir nas cadeiras para alcançar o topo daquela árvore maravilhosa, e no dia 25, à tarde, papai nos levava a passear em comunidades pobres e distrbuíamos, então, os presentes embrulhados por nós  e que haviam sido colocados naquela monumental árvore há pouco tempo atrás. Papai nos explicava que o velhinho não tivera tempo de passar por ali, e nós estávamos em "processo de ajuda" para com ele e aquelas crianças menos favorecidas.
     O tempo passava, o Natal chegava e nós já começávamos a crescer.
     Mauro, meu amiguinho de infância, um Juquinha de anedota, um dia desiludiu-me sobre o Papai Noel. Escancarou: - Sua boba, Papai Noel não existe. Papai Noel é seu pai. Morrendo de raiva dei-lhe uns tabefes. Ele nem relutou. " Fique acordada", disse. "Veja, olhe bem! É o seu pai que vai entrar no seu quarto".
     Daquele dia em diante fiquei preocupada, triste e sempre ia esperar meu pai no portão, principalmente quando chegava a época do Natal.
     Em uma determinada véspera de natal, papai saltou do carro com as mãos carregadas de embrulhos de presentes. Surpreendi-lhe com minha fala: -Papai para quem são estes presentes? É do Natal? É verdade que Papai Noel não existe?
     "Filha, estou trazendo muitas tâmaras para vocês e uns docinhos". Limitou-se somente a dizer isso. Mauro, ao meu lado, sorria com ar de vitória.
     Cheguei perto de Mauro e lhe disse que ele estava com inveja porque naquela ano eu passara em 1° lugar e ia receber o tão esperado presente encomendado, que era uma mobília de sala e quarto e uma linda boneca.
     Chegara , finalmente, a noite de Natal, Nesse ano não conseguia pregar olhos, estava muito tensa. Um determinado instante, a porta se abriu e avistei o meu pai com os meus presentes, arrumando-os em meu quarto como de costume. Confesso que chorei e odiei o Mauro mais do que nunca.
     No dia seguinte, chamei meu pai às falas. Ele, com a calma que lhe era peculiar, contou-me todo o  "mistério " do Natal, inclusive a lenda de S. Nicolau e  a problemática das crianças pobres. Pude entender  o porquê do "processo de ajuda"
  que fazíamos naquela ocasião nas comunidades menos favorecidas.
     Fiquei muito orgulhosa de meu pai e nem um pouco triste com a nova revelação. Não via a hora de encontrar o Mauro e gritar para ele e para todo o mundo  que Papai Noel existia sim. Era o homem mais digno que conhecera e que ele, o Papai Noel, era o meu pai, o meu querido pai.
Vilma Tavares
Enviado por Vilma Tavares em 23/12/2010
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