E nem sabiam quem era...

Havia,uma vez,  lugar tão longínquo que  mapas nem o mostravam. Alguns afirmavam saber-lhe o nome: Sckimickoski. Outros, matusaléns entre aqueles nômades, discordavam: era Zhongdian. 

E , nas tardes quentes da estepe, ao abrigo de tendas de pele, prosseguia a discussão. E foi assim, também, ao longo do outono. Reuniam-se na cabana comunitária ao redor do lume, do qual, em  tripé centenário, pendia recipiente de metal repleto de uma infusão de ervas e manteiga de iaque, a qual sorviam para enfrentar agruras do frio que o vento empurrava pela cobertura da tenda.

E o inverno chega. Uma noite, depois de muito chá, carne defumada e leite fermentado, concordam que Sckimickoski, com certeza, é o lugar além de qualquer distância mensurável . Um viandante localizara-lhes, em cartografia secular que lhe servia de orientação, entre as montanhas Kun-Lun, a localidade de Zhongdian.

“Sckimickoski! Sckimickoski!” gritam ao ritmo de batidas com os pés. E dançam ao redor do fogo. 

Súbito, cessam. Pela cobertura espessa de peles, que lhes serve de porta, surge um homem. Entreolham-se os que, há pouco, celebravam nome de um lugar.

“Por que Sckimickoski gera tal reação?” pergunta-lhes o forasteiro, de mãos longas e finas.

O mais arqueado do grupo, cujo o rosto se esconde atrás de tantas rugas que cada uma delas exibe suas próprias rugas, responde, apesar de saber que , pelas leis do grupo, forasteiros merecem o silêncio:

“ Homem-Desconhecido, encontramos, afinal, lugar para migrarmos na primavera. Lá existe a paz da distancia daqueles que poderão perseguir nossos descendentes, depois que a tundra esconder nossas vidas” . 

Homem-Desconhecido convida o grupo a deixar o conforto da cabana e olhar a natureza lá fora.

“ Só frio e vento e mais vento e neve e mais neve!” resmungam alguns, em coro.

“Vamos!” pede o mais velho. Homem-Desconhecido segura, gentilmente, as peles para que possam sair mais facilmente.

“Por Numi-Turum, parece dia claro, com aquela estrela enorme,  bem sobre nossas tendas! E o calor agradável! E as flores sem fim! Vejam quantas crias novinhas de nossos iaques! Numi-Turum aceitou as oferendas.”

Os mais velhos caem de joelhos frente ao Homem-Desconhecido: no céu, estrelas, nunca antes percebidas, alinham-se formando a palavra sckimickoscki

“ Qual a mensagem das estrelas, Homem-Desconhecido?”perguntam , em coro.

“ Sckimickoscki  é aqui. Vim para trazer-lhes  garantia da paz que vive em nós.”

E todos lançam-se aos pés do Homem-Desconhecido. A estrela inunda de fulgor a estepe, tendas, pessoas, rebanhos. 

E Homem-Desconhecido sobe, devagarinho, pelos raios de luz.

Um menininho percebe, de longe, marcas escuras nas palmas, mais alvas que leite de iaque, das mãos do Amigo-da-Estrela.
 
 

imagem:Google 

Ilram Rekrem
Enviado por Ilram Rekrem em 21/12/2010
Reeditado em 21/12/2010
Código do texto: T2684559
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.