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CENA DE NATAL



O final de tarde assovia um vento frio, prenúncio de uma gélida noite para desespero dos desavisados da sorte.

O menino exaspera-se quando vê o avô trancafiado na Casa de Repouso.

-"Vô, sou eu, seu neto!"

O idoso senhor, com o sobretudo surrado pela falta de cuidado, prossegue em direção ao pátio, dando sinal de não tê-lo ouvido.

Recalcitrante, o garoto repisa aos companheiros do avô, a decisão de não perdê-lo.

"Passar o Natal sem a sua presença? Não! Não seria Natal! ?

Abraça-o fortemente e, sem esperar por sua reação, toma-o pelo braço com determinação e o leva em sua companhia.

Aquele único minuto de descuido dos acompanhantes transforma-se, magicamente, em seu aliado.

O trajeto é longo e tumultuado. O compasso, distante de seus passos e de sua euforia.

Ninguém os aguarda. O apartamento acolhe o velho senhor, assim como, a encanecida poltrona de sempre que estende-lhe os braços para o aconchego enquanto o neto sobrepõe a manta sobre suas pernas.

O cipreste cintila, cafunga o cheiro que exala de seus pequenos galhos.

Exultante, o menino circunda suas mãos na vara de pescar, seu presente para o avô. Olha em sua direção e simula o movimento de lançar a linha.

O avô coparticipa da cena:

-"É preciso esperar o inverno acabar!", diz ele mansamente.

-"Vô, então sabe quem eu sou?"

O velho responde:

-"Sei que você é o meu melhor amigo!"

E tira do bolso esgarçado, um retrato de quando lhe ensinava a pescar.




 

 

 

heleida nobrega
Enviado por heleida nobrega em 13/12/2010
Reeditado em 13/12/2010
Código do texto: T2669465
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