VITRINE VIVA: UM JOGRAL DE NATAL

Meu cenário remonta talvez aos meados dos anos noventa quando estávamos a passear por ali, assim como também fazemos agora, em qualquer lugar, em meio a época de magia pré natalina.

De repente, parei para olhar algo meio de longe, posto que eles me chamaram a atenção pela beleza que simbolizavam.

Compunham uma família de dez pessoas, marido, esposa, cinco filhos, dois netos e uma bisa do lado materno que, no cenário do momento, lembro-me com nitidez, se sentava numa cadeira de balanço, dessas de vime escuro, cabeleira branquinha que se misturava aos flocos que desciam abundantemente do céu.

A neve jorrava espessa e cristalina, de modo que me fez sentir vontade de tocá-la, porém donde nos encontrávamos era muito difícil chegar até lá.

Caía em tamanho volume que me custava enxergar as luzes que piscavam coloridas delineando a bela estrutura arquitetônica, tipo suíça, da construção que adornava aquela família.

A casa simples e pequenina, depois de observá-la por um bom momento, pude perceber tratar-se duma igreja cristã, daquelas de solo americano, tradicional, aonde todos ensaiavam as canções e poemas do Natal na antevéspera da grande festa, e sei que ali tudo haveria de sair perfeito.

Lembro-me que os lábios de todos desenhavam um "ó" alargado, que nitidamente vocalizavam as notas inaudíveis das canções, donde ainda de longe também percebi que a entonação da postura das vozes do jogral era perfeita, arte de profissional.

A bisa ali sentada balouçava seus frágeis pezinhos protegidos por meias grossas, a fazer a marcação do compasso caprichoso do rítmo do jogral. Era como se fosse a maestrina da apresentação.

Mais adentro, próximo a uma lareira que queimava alto, uma manjedoura encenava o centro dum presépio simples, de poucos peças, aonde o principal personagem, o Menino a ser homenageado na festa, era o suficiente para representar o Espírito de Luz e trazê-lo ao palco da vida da Terra fria.

Tudo aquilo me encantava tão fortemente que decidi para sempre deles me aproximar.

Foi quando caminhei poucos passos e euforicamente abri a maçaneta da porta daquela loja Natalina a pedir para retirá-los da vitrine.

Quando acionei a corda da caixinha de música o cenário magicamente tomou vida.

Todas as luzes se acenderam, os personagens recobraram seus movimentos, um sino badalou e uma doce música soou na clássica "Silent Night".

Um pequeno Papai Noel imediatamente nos sobrevoou, a girar com as suas ágeis renas, e o pequeno Menino milagrosamente despertou para todo o sempre.

Desde então, aquela pequena cena sempre toma vida nos nossos Natais, exposta aqui na sala de casa.

Toda vez que soa o Natal eu me dou corda, entro naquele natalino jogral e sempre sinto um caloroso abraço do tempo.

Então percebo que os tais floquinhos de neve aos poucos se derretem sobre os nossos ombros.

Depois tomo meu lugar, ajeito minha postura , encho os pulmões e vocalizo a mesma canção de sempre...

Psiu...agora é hora do "silent night"!

Mais que um Feliz Natal em todos, ali, somos numa só voz, um abençoado momento de paz e de luz.