Um pedido inusitado...
Proximidades do Natal, festa máxima do cristianismo!
Data na qual, apesar da conotação meramente comercial dada pela maioria da população ao evento, representa para os mais ‘fiéis’ algo mais em termos religiosos, ou seja, a data suposta para o nascimento daquele que veio para ‘pôr ordem na casa’ e ‘sugerir’ uma salvação para os homens!
No embalo dos festejos, resolvemos montar um bazar, e em sendo assim, uniríamos o útil ao agradável. Enquanto estivéssemos de algum modo levando alegria no sentido de um consumismo da população afeita as pequenas lembrancinhas de ocasião, também estaríamos conhecendo/revendo adultos e crianças emanadas neste sentido ‘pueril’ de comemoração!
Compunham, como ofertas de ‘consumo’, este nosso ‘improvisado’ bazar, trabalhos artesanais elaborados com madeira, mosaicos e ‘iguarias’ à base de chocolate.
Como sugerem estas realizações nesta época, tornava-se ‘imperiosa’ a presença da figura folclórica, de cabelos e barbas brancas, vestimenta vermelha, barriga proeminente, por aqui conhecido como papai Noel!
Na falta de outro que apresentasse característica mais compatíveis com a incumbência, fui ‘sumariamente eleito’ para assumir o papel . De acordo com aqueles que me elegeram, uma de minhas principais características prendia-se à paciência que tenho em lidar com os pequeninos... Hô, hô, hô!
Sob um calor ‘escaldante’ de inicio de verão e sob uma vestimenta ‘rudimentar’, que incluíam peruca, barba, barriga plástica e uma roupa vermelha ‘sangue’ que atrai com maior vigor o calor advindo dos raios solares, literalmente ‘fui à luta’ cumprir o meu desígnio...
Embora sem contar com muita receptividade em termos de uma presença mais efetiva de ‘clientes’, aqui e acolá adentravam ao local algumas crianças que, de forma mais descontraída em alguns casos e mais introvertida em outros, acercavam-se do ‘bom velhinho’. Sorrisos, choros, olhares desconfiados, murmúrios somavam-se às solicitações de presentes idealizados nos inocentes desejos dos pequeninos.
E foram sucedendo-se os Lucas, os Matheus, os Lucianos, os Pedros, as Giavannas, as Bárbaras, as Julianas, as Marias,..., até que ele ‘surgiu’!
Pequenino, franzino, choroso,..., ‘quedou-se’ no colo da mãe, olhando ‘de soslaio’, de forma receosa para ‘aquela figura’ de longas barbas brancas, barriga proeminente, luvas brancas, botas negras e com uma indumentária vermelho ‘sangue’!
Em seu colo aquela mãe, também franzina, apertava o pequenino de encontro ao peito, parecendo querer introduzi-lo, como proteção, no fundo de seu coração!
Num repente, aquele pequenino ser, estendeu seus mirrados bracinhos em minha direção, não denotando mais aquele aparente ‘terror’ anteriormente demonstrado...
A ‘franzina mamãe’ aproximou-se e entregou seu ‘pequenino e precioso bem’...
Confesso que neste instante senti um tremor inexplicável percorrer meu corpo (que se aliou ao meu já ‘juramentado’ tremor senil...) ao sentir o contato daquele mirrado corpinho em meus braços.
Um par de olhinhos brilhantes, serenos e diretos, me fitou. Um pouco incomodado com a candura e insistência daquele olhar, com inexplicável insegurança, que não me é peculiar, indaguei:
--- Tudo bem? Qual é o seu nome?
Olhando-me diretamente nos olhos, ele respondeu:
--- Josué!
Incrível como aquele pequeno ser havia mexido internamente comigo. No fundo do recinto, em um som improvisado que havíamos colado como ‘suporte’ as nossas atividades comerciais, entoavam os acordes da música Ave Maria de Gounod, na maravilhosa interpretação da Celine Dion!
Resfoleguei e prossegui o meu ‘diálogo’ com ele:
--- E aí, meu jovem! Já escolheu o seu presente de Natal?
Abriu-se um largo sorriso na face da criaturinha, que, da inicial simples menção de seu evangélico nome, revelou-se bem extrovertido:
--- Papai Noel! Sei que perto do Natal você vai voar até o Céu para buscar os presentes das criancinhas aqui da terra. Lá no Céu tem um homem chamado Jesus, não tem?
Assustado, olhei para aquele semblante radioso que me olhava de forma interrogativa e respondi:
--- Claro! É nosso Pai Jesus Cristo que está lá...
O garotinho, cujo semblante pareceu-me envolto por uma misteriosa aura, argüiu:
--- Papai Noel! Pede para Jesus dizer para meu painho que está também lá que eu amo muito ele...
Não pude conter uma avalanche de lágrimas que desceram por minhas faces ‘empapando’ a amadora maquiagem que me havia submetido...
Em absoluto nada sabia acerca da vida daquele pequeno, mas deduzi que seu pai já deveria ter partido para um plano superior (soube depois da veracidade do fato, haja vista a mãe ter revelado para minha veneranda esposa...).
Aconcheguei com maior vigor o pequenino Josué junto ao coração e proferi em seu ouvido, palavras que sem sombra de quaisquer dúvidas, brotaram do fundo do meu coração:
--- Fique certo, meu inesquecível filhote Josi, que seu papai também o ama muito e, mesmo estando longe, está cuidando de você!
Eis o link da Ave Maria de Gounod, na interpretação da Celine Dion
http://www.youtube.com/watch?v=vXw3Hj6vRoc