Um presépio e um menino
Vanda acompanhava a multidão na volta pra casa até que... Parou e olhou com atenção para o presépio exposto na vitrine de uma loja. Não que houvesse algo diferente, é que na verdade nunca havia dispensado atenção para um presépio! E naquela tarde quente de dezembro, em pleno Centro da Cidade, simplesmente parou. E ficou alí, observando o cenário proposto para a chegada do maior evento da saga humana.
A criatividade do artista proporcionava um clima de plena harmonia entre humanos e animais. Era se como cada peça encontrasse complemento na outra. Sem duvidas um belo símbolo do Natal. Um lindo bebê no colo da mãe e a natureza como testemunha, mais a iluminação de uma estrela margeada por anjos. Lindo!
Vanda estava envolvida com o momento até que uma voz infantil interrompeu:
-Moça, compra uma bala.
A frase, despertou Vanda para a realidade de uma criança, magra, de mais ou menos 6 anos, vestida com um short sujo, com um olhar curioso e uma caixa nas mãos.
Vanda olhou mais uma vez para a figura do menino e sentiu o coração descortinar uma outra realidade: Uma criança, que deveria estar numa escola, tratado por uma família e respeitado em sua infância, fazia parte de um cenário sombrio e sem esperança.
Vanda estendeu a mão e comprou a bala. O menino agradeceu e sumiu na multidão. Vanda olhou em volta e viu a correria de pessoas, lojas cheias num clima de total individualismo e consumo.
Emocionada fez perguntas em silencio: "Afinal o que é o Natal?" "Uma data ou um espírito?" "Uma aparência ou a visão da realidade?" "O menino de gesso ou o menino da bala?"
Sem respostas, Vanda seguiu sua história, porém nunca esqueceu do presépio real que viu naquela tarde.