"SOU TEU PRESENTE MÃE"



     A entrada daquele homem maltrapilho, barba por fazer, olhar brilhante e, encurvado pelos anos vividos, não passou despercebida às pessoas que se encontravam na porta do hospital. Olhares de curiosidade, gestos de repulsa,comentários jocosos foram as únicas demonstrações dos jovens , enfermeiros e médicos residentes, até que a figura desaparecesse no final do corredor. Um dos jovens, intrigado pelo fato do porteiro não ter barrado a entrada de tão grotesca figura, resolveu perguntar o motivo do seu livre acesso:
     -João, quem é aquele senhor que acabou de passar e tu não o impediste?
O porteiro, com a educação costumeira, pois já estava no exercício de sua profissão há muitos anos, respondeu:
     - A quem o senhor se refere?... Pois não vi ninguém entrar que merecesse ser barrado ou que me chamasse a atenção .
O jovem retornou ao convívio dos colegas e comentou a resposta do porteiro que o havia deixado intrigado . Resolveram então sair à procura do estranho, percorrendo o mesmo trajeto que antes o viram fazer. Após uma incessante busca, não encontrando sequer o rastro do maltrapilho, resolveram voltar aos seus afazeres, pois o dever os chamava. O mês era dezembro e o movimento no hospital era intenso. Quando já tinham esquecido do velhinho, ele ressurge no corredor, passando por dois dos jovens que, incontinente, resolveram segui-lo. Viram-no entrar em um dos quartos da ala infantil e bateram à porta que se encontrava encostada. Após insistirem nas batidas, ela foi aberta por uma senhora, vestida com roupas de boa qualidade, e que, com um leve sorriso, convidou-os a entrar. Os jovens, que eram enfermeiros de outra ala distante, resolvem aceitar o convite, entraram no quarto e depararam-se com uma linda menina deitada numa maca e com vários aparelhos ligados ao seu frágil corpinho. Procurando, com os olhos aguçados, no ambiente, não viram nem sombra do velhinho que há pouco havia entrado por aquela porta.
A senhora, de nome Mara, agradeceu-lhes a visita e contou-lhes que a menina que ali se encontrava tinha 11 anos, era sua filha e estava em coma devido a um acidente de automóvel sofrido há pouco mais de seis meses. Um dos jovens resolveu perguntar quem era o senhor que acabara de entrar e eles não o estavam vendo no quarto. Dona Mara, com o olhar de perplexidade, respondeu que ali não entrou ninguém nas últimas horas, a não ser eles mesmos. Carlos, um dos jovens, iniciou uma leve e acalorada discussão, quando se ouviu um pequeno gemido, que partia do leito da menina e todos a viram, estupefatos, tentar erguer-se, e com a voz fraca, porém nítida, dizer:
Mamãe!...Sabe quem esteve aqui? Foi o Papai Noel, ele deixou dito para ti que eu “sou o teu presente de Natal”...Viu mãezinha?!...

 
Esta é uma das muitas histórias que se encontram em meu livro “Marcas na Alma” e, é meu presente aos meus leitores do RL . Beijos n’alma e Feliz Natal
Gildo G Oliveira
Enviado por Gildo G Oliveira em 25/12/2009
Reeditado em 21/09/2015
Código do texto: T1995241
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