O MENINO BATE À PORTA DA GUERRA

O General Comandante-em-Chefe recebe a comitiva, que chega portando um pano vermelho similar ao manto de Noel, e lhe apresentam o Deus-Menino, sorridente em sua candura. E a criança lhe diz: – Tu és o Deus da Morte? O militar fica embasbacado, engrolando uma frase dos manuais do Poder. O menino, notando o embaraço, diz: – Eu venho construindo o Homem há tanto tempo, que desejaria saber como é o rosto da destruição. O velho general mareou os olhos e novamente o constrangimento tomou conta de sua face sob os óculos. E lhe disse a contragosto: – Eu vejo a minha Pátria ameaçada, e, por ter jurado defendê-la, cumpro ordens e luto por Ela. O pequeno Cristo olhou à volta e balbuciou: – O Senhor tem filhos e netos? Sem titubear, o homem velho disse-lhe que sim. Ao que o Menino redarguiu: – Acho que os filhos de seus adversários de ideias e ações gostariam de viver mais, ao menos pra comemorar o Natal. Bem que os tempos de Natal poderiam ser todos os dias... – Seria bom que isto fosse verdade, disse o general, sentando-se pra ouvir melhor a criaturinha, que novamente esboçava um sorriso. E ela, num gesto de despedida: – Eu lhe proponho que use este manto. Ele parece ter a cor da Vitória, que é a sua especialidade, porém é o símbolo da Vida, da alegria de estar no mundo, a eterna aliança. Acho que as crianças gostarão. E partiu.

– Do livro A URGÊNCIA ESSENCIAL, 2009/15.

http://www.recantodasletras.com.br/natal/1994290