A ÚLTIMA MISSA DO GALO

Todos os anos na véspera do Natal, as irmãs gêmeas a procuravam para lhe felicitar pela data que se aproximava, posto que dona Sarah também comemorava seu aniversário na passagem da noite Santa, exatamente a meia noite.

Débora e Isabel sempre lhe presenteavam com bombons de damasco, trufas de cerejas, panetones de frutas e coockies de aveia, todos confeccionados pelas mãos da meninas que se aprimoravam na gastronomia de guloseimas diversas, cujas aulas eram ministradas pela dona Sarah.

Próximo às cinco da tarde as três se sentavam no jardim , à mesa recostada numa parede de hera de lustroso verde, aonde dona Sarah preparava a sua guarnição de chá, as decoradas xícaras e bule de porcelana inglesa, elegantemente postos sobre fina toalha de linho branco com fartos gardanapos do mesmo tecido, arrematados por delicados pontos artesanais feitos com fios de seda alva.

Ao sons dos sabiás -laranjeira as três degustavam um chá de frutas cítricas que perfumava os ares e proseavam sobre assuntos vários, quando dona Sarah lhes contava histórias de sua infância e da emoção que sentia em comemorar seu aniversário sob as badaladas dos sinos da missa do galo.

"Aqui tem cheiro de Natal, dona Sarah", diziam as meninas.

Porém no último Natal, a visita à dona Sarah foi diferente, posto que Débora havia entrado na faculdade bem longe dalí e apenas Isabel foi presentear a aniversariante com as guloseimas de sempre.

"Recomendações à dona Sarah" disse Débora à irmã, que daquela vez faria a visita desacompanhada, "diga-lhe para me mandar novas receitas pelos correios".

Dona Sarah recebeu a cesta de doces pelas mãos de Isabel, e ao cair da noite, assim que os sinos de Natal repicaram, a doce professora logo lacrimejou a saudade dos chás de sempre.

Débora lhe pediu que não chorasse, lhe explicou que a cesta de presente era a mesma e já estava ali, e que simbolicamente tudo estava muito bem.

Débora na sua tenra idade ainda não sabia que nunca há presentes sem as correspondentes presenças...por inteiro.

Quando me relataram algo parecido, logo me lembrei do PEQUENO PRÍNCIPE:

"todos somos responsáveis pelo que cativamos"

Nota do autor:

Conto baseado num fato real. Nomes fictícios.