Dingobel

"Dedico este conto especialmente primas Bina,

Ci e Nanda, que agora têm nomes de adultas,

mas serão minhas eternas comparsas."

Passavam o ano arquitetando um plano. Todo ano o mesmo plano: o de desmascará-lo!

Era chegada a grande noite. Após as funções que os adultos impunham, poderiam ir, enfim, para a cama, onde fingiriam dormir até a chegada do alvo. Pena que sempre fingiam tão bem...

Ao acordar, lá estava o desaforo: os presentes que provavam a vitória daquele velho, mais uma vez. Isso se de fato fosse um velho. Já não tinham tanta certeza.

A líder olha desapontada por tamanha felicidade de suas comparsas — em meio aos embrulhos desfeitos, pareciam já ter esquecido por completo do que aquilo se tratava. Mais um ano desperdiçado, um ano!

Indignada, ela chuta o pacote. E eis que ouve um barulho. Chuta novamente, desta vez com mais carinho. Parece uma música, mas... Não, não pode ser! Pensa ela, afinal, como ele poderia saber? Como alguém poderia saber?

Há muito havia desistido de escrever os pedidos. Primeiro, porque não acreditava que os correios pudessem levar tantas cartas para o Polo Norte em tão curto intervalo de tempo. Segundo por duvidar da credibilidade do destinatário.

O som se repete. Aflita, ela abre o pacote com urgência e, ao revelar seu conteúdo, fica boquiaberta:

Dingobel, dingobel...

Cantam as vozes de fadas na caixinha-de-música natalina. E, enquanto uma bela bailarina gira e gira, a pequena cética deixa seus planos e frustrações de lado, cuidadosamente guardados até o próximo Natal.