O Cartão de Natal

Parou e leu o cartão: "Feliz Natal". Olhou em volta e percebeu que, em meio ao vai e vem das pessoas, estava sozinho em pensamentos. O cartão, parte da formalidade da empresa onde trabalhava, mostrava o sorriso de um boneco de neve e um pinheiro. "Uma arvore?" pensou. Uma vida em meio a tempestade de neve. "Não deixa de ser um deserto, só que ao contrário" continuou em pensamento.

Àquele seria mais um Natal, na existência de Paulo Jorge.

Não tinha planos para a data.

Seria um dia como outro qualquer. Uns copos de vinho, um programa na televisão e o sono. Mas àquele pinheiro retratado no cartão simbolizava algo que até então não havia pensado: A vida em meio ao caos. Ele, o pinheiro, não podia desistir. Precisava lutar contra a fúria do meio. Não contava com ajuda de ninguém, nem o boneco de neve, porém era a mensagem que falava de forma significativa ao coração do homem, abalado pela solidão, pelo medo, pela falta da família e pela angustia de passar pela vida dia após dia.

Por um momento. Um breve momento. Sentiu a doce sensação de estar vivo. Não pelo consumo. Não pelos banquetes. Mas pela presença da vida como plano existencial. A dor não diminuiu, mas sentiu que precisa prosseguir.

Largou a pasta ao chão em plena Avenida Rio Branco, no coração comercial do Rio de Janeiro, cruzou os braços e se permitiu um abraço.

A multidão continuou seu ritmo. Poucas pessoas notaram o homem parado, sorrindo, vivendo o seu Feliz Natal!