O Papai Noel do Arthur.
Então é Natal.
Noite de Natal. Jonas experimenta a sua nova roupa de Papai Noel. Este ano aumentou dois números a sua cintura. Provavelmente no ano que vem ela estará dentro do padrão exigido para um perfeito Papai Noel. Mas talvez no ano que vem ele não possa mais fingir que é papai Noel. Arthur, seu filho de cinco anos, está bastante esperto e com certeza acabará descobrindo que o Papai Noel não passa de um mito.
Alice, sua esposa, dá os últimos retoques na roupa. Pronto. A roupa se ajustou perfeitamente com o enxerto de pano para aumentar a barriga.
Jonas coloca o gorro vermelho e a barba postiça, e mira-se no espelho. Arremata, volta-se, olha para Alice e solta uma sonora gargalhada típica de Papai Noel. _Ho! Ho! Ho!
Os dois se abraçam desajeitados, atrapalhados com a barba postiça e a enorme barriga, que não existiam há poucos momentos.
_Sabe, eu sempre tive a fantasia de ser beijada pelo Papai Noel, confidenciou Alice, sedutora.
_Então, vamos aproveitar que o seu marido não está presente e realizar a sua fantasia.
Beijaram-se apaixonadamente, sem noção do tempo e do lugar.
Arthur está na sala no andar de baixo assistindo televisão. Ouve a risada do Papai Noel e levanta-se fascinado.
_Papai Noel! Está lá em cima.
Sobe as escadas correndo, entra no seu quarto, mas não há ninguém ali. Dá meia volta e vai para o quarto dos seus pais. Abre a porta levemente e o que vê lá dentro deixa-o constrangido.
_Minha mãe está beijando o Papai Noel!
Seus amiguinhos mais velhos lá da escola comentam que as meninas que beijam outros meninos, além dos seus namorados, são galinhas, piranhas e outro nome que nem em pensamento é capaz de pronunciar. Sua mãe já lhe passou pimenta na boca por dizer tal palavra. _Escapou, desculpou-se. Mesmo assim não se livrou do castigo. Depois disso nunca mais repetiu o tal nome, nem na rua. Não foi pela pimenta, que arde pra burro, mas pela atitude de sua mãe.
Agora sua mãe está ali beijando um... outro... ?
_Ela é uma... uma...
Afasta-se correndo, entra no seu quarto e tranca a porta à chave. Joga-se na cama e chora copiosamente. Não se atreve a denominar a mãe, mas aquele nome fica ecoando na sua mente. Ele imagina os seus amiguinhos lá na escola lhe tripudiando, chamando sua mãe por aquele nome. Ele pega pedras e atira neles. Seus amiguinhos se esquivam delas e continuam gritando aquele nome feio. Ele chora muito e grita desesperadamente.
_É mentira! É mentira!
Mas ele sabe que é verdade. Ele próprio a viu beijando o ...
Neste momento a porta de seu quarto se abre e o Papai Noel entra sorridente.
Arthur levanta-se da cama sobressaltado. Ele havia trancado a porta à chave pelo lado de dentro. Como pôde o Papai Noel entrar?
_Feliz Natal, Arthur! Venha comigo ver o seu presente.
_Não quero presente. Vá embora. Não gosto de você.
Prometo que irei assim que você receber o seu presente. Não posso ir sem entregá-lo a você.
_Vá embora. Eu não gosto mais de você.
_Venha! Dê-me a mão. Eu garanto que você vai gostar muito do seu presente. Será o melhor da sua vida.
Arthur lhe dá a mão e o acompanha. Não o faz pela curiosidade em saber que maravilhoso presente será esse. Ele o acompanha porque vê em seus olhos a mesma atitude que viu nos olhos da mãe quando o repreendeu por falar nome feio.
O Papai Noel leva Arthur até a porta do quarto dos seus pais.
_Abra a porta. Seu presente está lá dentro.
Arthur abre a porta silenciosamente e aponta a cabeça o suficiente para enxergar o interior do quarto. Outro Papai Noel está lá, mirando-se no espelho, enquanto sua mãe ajeita-lhe a roupa. Arthur pode ver o seu rosto barbudo pelo reflexo do espelho.
De repente, o Papai Noel tira o gorro, a barba postiça e suspira aliviado, satisfeito com o efeito refrescante da retirada daqueles adereços. Uma pausa necessária antes de enfrentar uma hora da sufocante missão de Papai Noel.
_Meu pai! Arthur contém um grito de espanto ao descobrir que aquele outro Papai Noel, aquele que beijou a sua mãe, é o seu pai.
_Então ela não é uma... Ipiiii!
_Mas se aquele Papai Noel é o meu pai, quem é você? - Arthur pergunta ao outro Papai Noel, intrigado.
_Eu sou o verdadeiro Papai Noel. O seu pai e outros homens fingem ser eu.
_Mas porque eles fazem isso?
_Os adultos não acreditam em mim. Fantasiam-se de Papai Noel e presenteiam os filhos e demais pessoas com presentes que eles próprios compram. Eu não dou presentes materiais. Eu premio a alma de pessoas boas. Assim como eu lhe demonstrei que a sua mãe é pura como você sempre imaginou ser, devolvendo-lhe a alegria, eu dou paz, amor e felicidade a todos aqueles que têm o espírito do Natal.
_Arthur, o que você está fazendo aqui? - perguntou-lhe a mãe, saindo do quarto, preocupada com a possibilidade de ele ter visto o pai se fantasiando de Papai Noel.
_Eu estou com o...
Olhou em volta procurando o verdadeiro Papai Noel para mostrá-lo a mãe, mas ele já não estava ali. Com certeza estaria presenteando outra alma boa.
_Nada. Estou indo para o meu quarto.
_Vamos para a sala. Papai Noel está para chegar. Arthur, você vai ganhar um presente ma-ra-vi-lho-so.
_Eu já ganhei.
_Hã?