O PRESÉPIO DO VALE ENCANTADO
"OLHA, SE É A BISA, ENTÃO JÁ É NATAL!"
Naquele vale distante,cravado nas montanhas de picos eternamente nevados, há setenta anos ela despertava todas as madrugada para tão cedo cuidar dos jardins e das rosas. Lá ,ela era a "Bisa" de todos!
Sua pequenina casa de alvenaria caiada de branco, comportava poucos comodos e alguns utensilios domésticos, mais que suficientes para a sua modesta vida.
Já tinha alguns bisnetos biológicos que vez ou outra vinham visitá-la, e sempre lhes contava algumas estórias que ela mesmo escrevia de improviso, e que as arrematava com os mesmos ensinamentos, que as crianças recitavam:" já sabemos Bisa, para se viver bem precisamos apenas do suficiente".
E ela assim se realizava porque passava para as crianças alguns valores que ainda acreditava perpétuos e imprescindíveis pela vida.
Dizia que o sol era a nossa estrela maior, porque sob seus raios nada ficava no escuro. " é nosso ouro" acreditava ,porque seria dele que advinha toda a energia das coisas, do corpo e do espírito.
As flores eram seu maior propósito. Aproveitava as manhãs para acordá-las sob a névoa do vale, e sempre conversva com as novas mudas que plantava e replantava, porque também acreditava que nada vingaria num silêncio duradouro e que os diálogos preenchiam a vida de todos.
Algodão era seu bicho de estimação, um gato angorá elegante e robusto , de pelos brilhantes, que sempre recostava ao seus pés às seis da tarde, hora que o sino da igreja repicava para que as pessoas agradecessem pelas dádivas do dia...."Vem cá Algodão, rezemos juntos" -dizia ela ao angorá orgulhoso e roncador.
Dezembro era seu mês predileto, pois marcava a chegada do Menino.
Sua pequena casa era famosa na região, posto que fazia o pinheirinho mais brilhante de que se tinha notícia. Um pinheiro de rosas...
No seu telhado ela mesma se encarregava de colocar um velhinho gigante, de elegante vestuário de veludo vermelho, adornado de luzinhas coloridas, que desceria dali só na noite de Natal , vindo dos céus, a pilotar um trenó movido a seis renas;"São Nicolau lhes trará os presentinhos crianças!", dizia ela a oferecer um receptáculo para as cartinhas da redondeza, logo na entrada do jardim das rosas."O que pediram mesmo, crianças?" perguntava ela curiosa a sorrir, "pedimos o suficiente, bisa", lhe respondia, em coro, a criançada.
Mas o presépio era a maior atração do vale: Contava às crianças que por volta de mil e duzentos depois de Cristo, a cena do Seu nascimento fora pela primeira vez montada por São Francisco de Assis, e todos acreditavam que era justamente por isso que o seu presépio era misteriosamente visitado por todos os pássaros e demais fauna das montanhas, embora Algodão fosse o maior espectador, lá de cima do telhado.
Todas as tardes até a chegada do Natal, Bisa reunia as crianças do vale no jardim das rosas, e contava a todos, fauna e crianças, a história desde o Anjo Gabriel , o que anunciou a vinda do Menino, até a estrela de Belém , a que guiou os Reis Magos até Jesus, O Menino nascido na manjedoura.
"Manjedoura, Bisa?"
Explicava que a manjedoura seria a principal mensagem à humanidade, ou seja, ensinava a grande virtude da humildade que deveria prevalecer entre os homens.
E assim...prosseguia.
"fala de novo dos Reis, Bisa" sempre pediam as crianças.
Então ela contava de Melquior, Baltazar e Gaspar que presentearam a Jesus, com... "com o suficiente, não é, Bisa?" arrematavam as crianças.
"Sim, com o suficiente, crianças" ."Então por quê o ouro, Bisa?"-e ela explicava que simbolizava a sabedoria e a luz dos Reis." E o incenso, Bisa?"- "a fé, meninos" ; e a mirra?" insistiam.
E ela pacientemente explicava que a mirra seria um unguento perfumado para o mistério da paixão de Cristo, uma situação que igualaria a Sua dor à dor humana. Serviria de alívio às chagas da vida.
E certa noite...
São Nicolau acordou, o trenó empinou, o sino soou, o pinheiro piscou...Algodão miou, e a Bisa embarcou na estrela de Belém para fazer seu natal lá no céu.
De Lá para cá, toda a meia noite, a Bisa sobrevoa os céus ao lado de São Nicolau, para desejar um FELIZ NATAL A TODOS!
E é ela quem pilota as renas!
Jorram dos céus pacotinhos luminosos de suficientes preciosidades, como amor, compreensão, paz, amizade, caridade, união, fraternidade, perdão.
"Lembrem-se, um NATAL DE VERDADE nos é mais que suficiente!"
É O QUE TODAS AS CRIANÇAS OUVEM LÁ DO CÉU...quando é noite de natal no vale encantado...