O MEU MELHOR PRESENTE DE NATAL

 

 

 

Naqueles 23 de dezembro a insônia me visitou. Durante a madrugada a minha cabecinha de criança sonhou acordada com o Natal. Eu, não entendia o seu significado, porém, ouvi os meus colegas do “Grupo Escolar” contar uns aos outros dos pedidos feitos ao Papai Noel. Timidamente, perguntei-lhes:

– Quem é? Vocês têm um pai com o mesmo nome?

– Não, seu bobo! Papai Noel é um velhinho que no dia de Natal dá presentes,  para toodas crianças. Você nunca ganhou presentes dele?

– Não...

– Mas, não é preciso ter pai, pra ganhar presente do papai Noel! 

Respondeu-me Hugo.

Perguntei-lhe espantado: – Não?

– É claro que não! Eu não tenho pai, mas todo natal o Papai Noel me dá presente!

Falou o Marquinhos, outro colega nosso, todo orgulhoso. Perguntei: – Ah... Ele dá mesmo? Como é que eu faço? Como é que ele vai saber onde moro?

Hugo falou: – Minha mãe me ajuda a fazer o pedido; ela diz o que é melhor. No Natal passado, eu pedi uma bicicleta, então a minha mãe disse que o Papai Noel era muito velhinho e que era difícil para ele subir o morro carregando os presentes...  e, disse também que uma bicicleta é muuito pesada!

Concordei com ela e pedi um carro bem bonito...

– E ele deu?

– Claro! Igualzinho ao que eu mostrei a minha mãe!

– Ah... Suspirei!

Fiquei pensando durante todo o dia: Ah... eu queria ganhar um presente!

Quando a mamãe chegou do trabalho – ela trabalhava a dez anos, na casa de um casal de médicos –  contei para ela sobre a minha conversa com os meus colegas.

Ela ficou em silêncio, olhando para mim... Vi a mamãe chorar e perguntei-lhe: – Por que a senhora está chorando, mãe?

– Por nada filho... É que eu cresci sem festejar os Natais da minha vida!  Esqueci de fazer você viver os seus. Perdoe-me, filho... Mas, o que você gostaria de ganhar mesmo?

– Um carro bem bonito!

– Vou falar para o Papai Noel, está bem?

Que alegria eu senti! Pela primeira vez eu ganharia um presente do Papai Noel.

“Papai!...” Que palavra mágica! Boa de falar... Eu cresci chamando mamãe e só mamãe. Nunca conheci o meu pai.  Algumas vezes eu perguntava a minha mãe: – Mãe, por que eu não tenho pai? Por que eu não sou como as outras crianças?

Ela rodeava, porém, não me falava a verdade.

Com a alma agitada, pela ansiedade da minha descoberta,   naquela madrugada abafada, no escuro do meu barraco olhando  para o teto de zinco, deitado no meu  desconfortável sofá, sem pés, rente ao chão, com um único lençol  que eu tinha de optar, entre forrar o  plástico do sofá, ou me cobrir, para me  livrar dos pernilongos, que uma generosa chuva se fez cair me refrescando,  através dos furos do telhado - o meu chuveirão.

Passava das 00:00 h – havia uma casa de jogos próximo ao nosso barraco, que costumava fechar muito tarde, eu ouvia os comentários da vizinhança a respeito do horário do fechamento, após às 00:00 h. Então, percebi ser muito tarde.

A minha mãe ainda, não tinha chegado, porém, eu não sentia medo, os meus pensamentos eram tão bons...

Chovia forte na noite enluarada, da mesma forma que, algumas vezes, chove durante um dia de sol.

Pelos furos do telhado percebi raios luzentes, que se infiltravam e causavam um bonito efeito no nosso barraco, de dois cômodos. Os pingos fortes da chuva se faziam ouvir no zinco... como se Deus estivesse falando comigo, em mensagem codificada: – “Estou aqui meu filho, bem presente, não estás só!  Como presente de Natal te dou o céu...  Essas são às luzes de todos os natais que você não viveu”!

Comecei a chorar mansinho. Eu era criança não entendia... Mas no meu coração eu ouvia uma voz doce que deixou de falar comigo, de dentro do meu coração e inundou o nosso barraco. Uma doce e forte voz como que amplificada, enquanto que o lugar simples e humilde ficou repleto de estrelas... O chão de barro batido, os poucos utensílios e projetos de móveis – igual a minha cama –, tudo estava bordado por estrelas de luzes tênues... Àquela doce voz, continuava a falar comigo:  – Sou o teu Deus! O Pai dos órfãos e o marido das viúvas... Sou eu que zelo por ti e vou te dar um presente de Natal, que Noel não poderá dá.  Não o receberás aqui, no morro farei com que desças à cidade   para recebê-lo.

Não sei se àquela voz se alongou... Foi um bálsamo, para a minha alma inocente e ansiosa perdida em questionamentos mudos.  Adormeci, ouvindo-a.

Não vi a minha mãe chegar. Acordei com ela me chamando, apressando-me iríamos passar o Natal na casa dos patrões de minha mãe – um casal de médicos –, algumas vezes, ela me levava para passar o dia lá, juntinhos, naquele apartamento imenso e elegante.

O Dr. Fábio ficava me olhando, demoradamente... Algumas vezes era carinhoso. Eles não tinham filhos; a Dra.  Olívia – sua esposa – era estéril.

Estavam em férias e planejavam viajar logo após o Natal.

A minha mãe também teria férias... Poderíamos ficar juntos, por mais tempo.

A Família dos patrões da mamãe morava em outro país... Distante, muito distante!

Naquela noite de véspera de Natal éramos em número de quatro. Jantamos alegres e em seguida, a doutora Olívia nos convidou para nos assentarmos juntos à “Árvore de Natal”, muito bonita e iluminada, com várias caixas de presentes, embaixo...  O Dr. Fábio, calmamente, me perguntou: – O que você pediu ao Papai Noel, filho?

Olhei para ele muito sério e lhe respondi: – Eu e a minha mãe pedimos um carro bem bonito... Mas, ouvi uma voz bonita e calma, no meu coração dizendo, que Ele era o pai dos órfãos e marido das viúvas e que eu não estava só...  Que eu iria ganhar  um presente  que o Papai Noel não poderia me dar.  Para isso eu teria que descer o morro...

 Eu já não sei o que vou ganhar... Sabe, o que eu queria mais do que qualquer presente doutor?

– Não, filho! Não sei... O quê?

– O meu pai! O meu pai de verdade! Eu só tenho mãe...

 Sem entender vi o doutor Fábio chorar, como eu nunca pensei que um homem pudesse fazê-lo... Mesmo eu sendo tão pequenino, entendi que algo muito sério estava acontecendo, naquela noite de Natal.

Espantado vi o doutor pegar as mãos de sua esposa e lhe pedir perdão, em prantos, enquanto que a minha mãe nervosa colocou as mãos na boca e gritou: – Naão! Não conte Fábio!

Fiquei mais confuso ainda... A minha mãe chamara o doutor, simplesmente, por Fábio... Ele não a ouviu e contou a doutora que eu era o seu filho.

 Não ficamos para a entrega dos presentes, mamãe me pegou pela mão e saímos rapidamente.

A minha vida mudou... As nossas vidas mudaram!

Minha mãe não mais precisou trabalhar em casa de família; eu ganhei o pai que eu pensei não ter; o doutor Fábio me reconheceu como filho e nos deu uma casa decente; uma pensão para a minha mãe cuidar de mim.

A sua esposa, ao longo dos anos lhe perdoou, não se separaram... eu não fiz a infelicidade deles... Causei lágrimas, é verdade... Sem querer fiz a boa doutora sofrer.

Entendi que eu ganhara o maior presente de toda a minha vida. A doce voz cumpriu o prometido!

A verdade sempre vence. Ela é amor é fruto do Espírito de Deus e o amor vence o mundo.


 

 

 


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EstherRogessi.Escritora UBE. Mat. 3963.Conto: O MEU MELHOR PRESENTE DE NATAL. Categoria: Narrativa.16/11/09.

 
EstherRogessi
Enviado por EstherRogessi em 16/12/2009
Reeditado em 27/05/2018
Código do texto: T1981421
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