UM PRESENTE DE DEUS/ MINHA BRISA
Os olhinhos de Brisa brilhando diante da árvore de natal, eram os mesmos olhinhos que vi pelas primeira vez na incubadora da UTI neonatal. Olhos ávidos pela vida, foi assim que os percebi, quando fitei seu olhar, oito dias após seu nascimento. Hoje seus olhos sorriam encantada com o brilho das luzes e enfeites da árvore de natal. Fiquei a observá-la e meus pensamenrtos voaram longe, indo parar na noite de natal do ano anterior, quando animadamente alguém reclamava da falta de um bebezinho na família. O ambiente era de total alegria e descontração como acontecia todos os anos, as comemorações natalinas eram realizadas em minha casa, havia muitos anos. Fazíamos uma bonita e saborosa ceia, entregávamos os presentes do amigo secreto e ficávamos conversando até altas horas. Meus filhos já estavam crescidos, o mais novo tinha onze anos e todos reclamavam da falta de uma criança menor para dar mais alegria ainda à nossa festa. Mal sabia eu, que Brisa já estava a caminho. Quando soube que estava grávida, confesso que chorei muito, por ter ciência dos problemas decorrentes de uma gravidez de alto risco. Quando estava com vinte e oito semanas de gestação fui hospitalizada, com uma crise de hipertensão. Após tres semanas, fizeram o parto de Brisa. Nós duas corremos risco de vida e após os primeiros cuidados, Brisa foi para a UTI Neonatal e eu para um quarto, onde chorei pela segunda vez desde que estava hospitalizada, em razão de ver todas as outras mães com seus filhos e eu, impossibilitada de conhecer minha filha por ainda estar com a pressão arterial muito alta, abraçava o vazio que aquela situação me causava. Fugi do quarto e fui conhecê-la. Era o anjo mais lindo que já havia visto. Anjinho, pois era muito pequena, pesava 1.550 gramas. Minha mãe chorava ante a possibilidade de Brisa não resisitir à crise rspiratória que enfrentava, mas no momento em que vi o modo como firmava os pezinhos na incubadora e tentava levantar, uma calma inexplicável tomou conta de mim, como se me sentisse abraçada por Deus e senti que Brisa sobreviveria e seria uma criança saudável, o que, graças à Deus foi confirmado, trinta e quatro dias depois, quando o médico me deu o resultado do teste do pezinho, isentando Brisa de quaisquer sequelas decorrentes daqueles momentos tão difíceis pelos quais passamos. Eu a carregava nos braços, feliz por ela ter atingido os 2.200 gramas desejados pelo médico para que ela fosse liberada do hospital e indo em direção à nossa casa, onde ela finalmente conheceria os irmãos. Brisa encheu de alegria nossas vidas e mesmo em meio às dificuldades, cresceu forte e encantadora. Às vezes eu pensava no por quê de Deus ter-me enviado aquele anjo e sentia que havia uma razão específica. Quando Brisa tinha tres anos, minha mãe faleceu. Entendi, então, a resposta para minhas indagações. As duas eram ligadas demais e posso dizer que Brisa tirou minha mãe da depressão em que seguidamente se encontrava, talvez pela ausência de meu pai que falecera havia seis anos. Minha mãe ficou muito mais feliz com a chegada de Brisa e desdobrava-se em cuidados para com ela, sentindo-se muito útil, desta maneira. Entendi que Brisa viera preencher os espaços vazios que nos são impostos pela vida, mas tão necessários à nossa evoução espiritual e agradeci à Deus por este belo presente de Natal que Ele me enviara. No primeiro Natal após a morte de minha mãe, achei que morreríamos de tristeza pela ausência de minha mãe, mas a presença de Brisa confortou à todos, contagiando-nos com sua pureza e alegria. Com certeza, minha querida mãe, de onde está, olha por nós e deve se alegrar ao ver Brisa, agora com cinco aninhos, adorando o natal e carregando consigo o verdadeiro espirito do natal, pois
conhece a história no nascimento de Cristo e vive questionando-me como o papai noel fará para entregar os presentes à todas as crianças do mundo, além de de já estar cuidando dos preparativos para o Natal, selecionando enfeites e luzinhas, movida pela mesma alegria que encantava minha mãe e à mim, quando da proximidade das festas natalinas. Quando vejo minha filha, entusiasmada com o Natal, pedindo ao Menino Jesus para não deixar nenhuma criança sem presente, elevo uma prece de agradecimento à Deus, por ter-me dado a benção de enviar-me este anjo que preencheu ainda outros espaços vazios, tão comumente deixados nos relacionamentos atuais, por ter se revelado uma filha saudável, amorosa, inteligente e, sendo assim, rezo, rezo sempre por aquelas mães com as quais convivi na UTI neonatal e que não tiveram a mesma sorte e benção que eu e Brisa tivemos.