UM NATAL DE SONHOS
Com a proximidade das festas de final de ano, mal posso conter minha ansiedade, pois para mim, além da oportunidade de
reflexão e confraternização, estas datas possuem um significado muito especial. Reportando-me à minha infãncia, recordo os dias
tão felizes que antecediam o Natal. Pela animação de minha mãe, que contagiava a todos com sua alegria em cuidar dos preparativos,
já esperávamos por uma grande festa, onde o prazer maior era a reunião de todos os familiares.
Minha mãe, apesar das dificuldades financeiras, ajeitava a nossa casa com seus melhores panos, cortinas novas e toalhinhas
alusivas ao Natal, pintava as peças principais da casa e ia comprando os presentes que seriam distribuídos na ocasião.Quando a caixa
de enfeites de Natal era retirada do sótão, minha euforia aumentava pois sabia que a data tão especial aproximava-se. Nos dias que
antecediam o Natal, minha mãe saía, à noitinha para percorrer a avenida onde ficavam expostos os galhos de pinheiro e escolher o que
ela julgasse o mais bonito. Após levá-lo para casa e colocá-lo numa lata com pedras e água, mamãe iniciava a ornamentação da árvore.
Bolas de vidro coloridas e brilhantes, soldadinhos de madeira, cavalinhos, anjos, cegonhas ricamente decorados, completavam aquele cenário
de sonho e magia, que preenchia os olhos de minha meninice, encantada com a delicadeza de minha mãe, ao colocar os enfeites no
pinheiro, num verdadeiro ritual de encantamento.
O toque final, ficava por conta da colocação da * barba de pau, os festões prateados e as velinhas coloridas, colocadas num
mini-castiçal e dispostas nas pontas dos galhos do pinheiro. Estas, para mim, eram o astro principal da decoração e eu aguardava
o momento em que minha mãe apagava as luzes da casa e acendia as velinhas. Havia ainda o presépio, o qual era montado com a
participação de todos, pois recolhíamos areia e galhos para reproduzir o cenário no nascimento do Menino Jesus. Posso sentir até
hoje aquele aroma do galho verde do pinheiro, misturado ao cheiro da barba de pau e das velinhas queimando. Ficava ali por muito
tempo, fitando aquelas luzes, imagens refletidas nos enfeites de vidro, sonhando com a tão esperada noite, em que colocaríamos
nossa melhor roupa, iríamos à igreja, assistir à missa do galo e retornaríamos para casa, onde degustaríamos a ceia preparada com
tanto amor, por minha mãe. Ao soar dos sinos, à meia-noite, nos abraçávamos comovidos, pelas lembranças dos tempos difíceis,
mas também pelas alegrias, sempre tão presentes naquela humilde família. Em seguida abríamos os presentes, momentos embalados
pelas melodias natalinas e pelos risos de contentamento.
Minha mãe ao partir, além da herança afetiva de amor e respeito à vida, para mim a principal herança, deixou-me este legado;
o amor às festas, às comemorações e às reuniões familiares. Foi uma singela e valiosa herança, pois consegui manter estas tradições
no seio de minha própria família. Hoje são os olhinhos de Brisa que brilham, ao perceber a aproximação do Natal e admirar os enfeites
nas caixas, aguardando a chegada do galho de pinheiro alemão que busco todos os anos no mesmo local, tal qual minha mãe o fazia.
Espero que este brilho de felicidade e esperança que vejo nos olhos de Brisa, permaneça por muitas gerações encantando olhares,
onde brilham os sonhos, a alegria em comemorar o nascimento de Cristo, o conforto do abraço emocionado nos familiares, a felicidade e
a esperança de dias de muita paz e amor. Feliz Natal a todos.