ONDE O PAPAI NOEL?
Hoje de manhã, quando acordei, percebi um sapato debaixo da árvore de Natal. Estranhei o fato, pois já fazia muitos anos que não via esta cena. Fui até ela e ao pegar o sapato, vi que era de meu filho Emmanuel (ele tem Síndrome de Dawn).
Pouco depois ele chegou, com os olhos atentos e um leve e delicioso sorriso nos lábios. Correu até a árvore, pegou o sapato e olhou para dentro. Uma leve sensação de desapontamento assomou seu rosto. Olhou-me, com seu olhar percuciente, perguntando-me, no seu jeito difícil de falar e de ser entendido:
- Papai Noel não veio?
Triste, sem saber o que falar, fui até ele e o abracei. Senti as lágrimas (dele e as minhas) misturarem-se num misto de tristeza e saudade.Recompondo-me, questionei-o:
- Filho, quem te falou que o Papai Noel viria e colocaria um presente dentro do seu sapato?
- Eu vi numa revista.
- Em uma revista? Qual?
- Uma que eu achei nos seus guardados. Ela está bem amarela. Parece velha.
Peguei-o pela mão e levei-o até o sofá. Sentamos. Foi aí que eu pude lhe falar:
- Querido. Este Papai Noel não existe mais. Ele foi o “meu” Papai Noel. Existiu há muitos anos, e já faz muitos que ele desapareceu. Hoje, o Papai Noel encontra-se nas lojas, nos grandes magazines, no shopping center.
- Então acabou toda a magia? Acabou todo aquele encanto, de acordarmos de manhã, irmos até a árvore e lá encontrar, um simples presente, mas embrulhado com amor, carinho e fé? – perguntou-me ele, ainda com tristeza nos olhos.
Eu sorri. Não acreditei no que ouvira. Curioso, mais uma vez perguntei:
- E onde você aprendeu tudo isto?
- Na revista, aquela velha e amarelada.
Respondi:
- Sim filho. Isto tudo que você perguntou já faz parte de um tempo – velho e amarelado – que as pessoas deixaram para trás. Não existe mais. O Natal, filho querido, é apenas um dia de grandes vendas, de grandes lucros comerciais.
Ele limpou o nariz, enxugou as lágrimas e levantando-se, sentenciou:
- Sabe pai. As pessoas normais estragaram o mundo. Perderam a magia, o amor, a fé, a alegria dos velhos natais.
- E como você sabe de tudo isto?
- Vi, pelas fotos amarelas e velhas, que encontrei em seu baú. Aqueles tempos já não existem. É uma pena. Na minha escola, lá onde tenho amigos iguais a mim, quando eu contei como era o Natal, todos se alegraram. E prometemos fazer o que eu fiz aqui em casa. Penso pai, que nós é que somos normais. Sabe por quê?
- Não filho. Não sei. Por quê?
- Porque nós ainda acreditamos em Papai Noel.
Afastou-se de mim, indo para o quarto. Fiquei observando-o e não pude de deixar fazer correr uma lágrima em minha face. Uma lágrima de saudade misturada com a tristeza de saber que eu sou uma pessoa “normal”.