O MILAGRE DUMA ESTRELA

O dia amanhecera calmo entre aquele povo acostumado aos campos minados.

Homens e mulheres arrastavam suas parcas vestes pelos derredores do vilarejo recém vitimado pelos borbadeios de sempre, os que iluminavam os negros céus das tão escuras noites das suas vidas.

O silêncio parecia total e vez ou outra crianças esboçavam um choro, quando suas forças ainda lhes permitiam chorar.

Pássaros rotos visitavam a manhã enquanto a comunidade fazia a sua oração matinal.

As vielas de pedras soltas, carcomidas pelos velhos e enferrujados tanques de guerra, trepidavam sob os passos dos que procuravam por água e por algum alimento.

O dia parecia infinito qual o sofrimento esboçado em cada rosto.

Um sol quente se levantava tarde, como que cansado de aquecer os corpos sofridos, mas que ainda carregavam em si a esperança de dias melhores.

Algumas latas tilintavam no fogareiro a lenha, improvisados ali, nas tendas de lona escura aonde alguns grãos de milho dançavam entre si, no borbulhar da água suja.

No silêncio do crepúsculo eu também estava lá, a ouvir o gemido da vida que urgia renascer.

Segurei aquela perna que sangrava, garroteei a base do membro já pálido e, com a força leiga dum coração assustado, estanquei o sangue que jorrava, milagrosamente ainda vermelho.

Perguntei-me porque havia de ser assim.

Então, lembrei do meu país. Do meu abençoado país.

A noite chegou e, dali, eu ainda pude em pensamento me transportar, por saber que logo mais brilhariam as luzes do Natal.

Aprendi que através do coração, instantaneamente, nos transportamos para qualquer lugar.

Assim, viajei pela memória da vida e pude me enxergar nas Grandes Festas do meu tempo de criança, alegremente, a pedir ao Menino a redenção da Humanidade.

Aconcheguei aquele corpo trôpego sobre uma estopa e num relance d'alma me senti num presépio suave.

Saí da tenda, olhei para a noite e chequei meu relógio a me situar no fuso horário local.

Já era Natal! Mais um perene Natal esquecido dentre os Homens.

Ergui meus ofuscados olhos ao céu a enxergar uma GRANDE ESTRELA que, com sua LUZ, desviou no ar um míssil que vinha em nossa direção.

Então, mais uma vez, dei graças ao MENINO pelo milagre da vida e ali, em meio aos cacos humanos "dos que não sabem o que fazem", mais uma vez LHES orei (também ao Pai e ao Santo Espírito) pelo induto de paz entre os Homens...de tão parco entendimento.

Que nos haja entre nós o Natalino sopro da milagrosa "Boa Nova": a da boa vontade que transforma todos os corações.