UM NATAL PARA VOCE

Parado diante da árvore de Natal ele intensifica o olhar
No brilho dos enfeites coloridos. Seu verde olhar percorre com a inocência típica da infância toda seqüência de cores e o brilho onde ele poderia voar... Queria voar para além daquele tempo e daquela inocência. Talvez voar para dentro daquela bola de cristal que guarda uma paisagem de outras terras. Queria uma paisagem natalina com neve caindo no seu rosto sardento e abrir um enorme sorriso sem se lembrar da “janelinha” [ele estava trocando os dentes] e isso deixava o seu sorriso um tanto restrito. Queria sentir o frio e a maciez da neve... Queria conhecer a neve. Queria conhecer outros lugares outras terras. Era inquieto em seus pensamentos “voadores” e voava, voava...
Estava tão ausente que não ouviu os passos do pai apenas sentiu a sua mão pousando em seu ombro forçando-o a realidade. Olhou a volta viu os irmãos brincando ouviu a conversa da mãe e da irmã enquanto preparavam os pratos que seriam servidos no almoço de Natal. A “ceia” não tinha importância para quem trabalha no campo e levanta-se com os primeiros raios de sol. Pensava nisso enquanto tentava distinguir os aromas que vinha da cozinha onde o fogão à lenha ardia a chapa e aquecia o forno de onde saiam os biscoitos em formatos de árvores, botas, estrelas e cometas e que depois de frios eram confeitados pela mãe com glacê colorido e pequenas bolinhas prateadas. Gostava disso. Açúcar colorido e azedinho. Gostava disso.
Gostava do Natal. Era bom porque ganhava sempre algum presente. Um dia ganhou um cavalinho de madeira e virou um Príncipe e salvou a Princesa lutando contra um dragão e lutou por vários e vários dias até o cavalinho perder um olho depois o outro e ficar esquecido lá no porão. Teve também um pião colorido que girava, girava muito, mas este se perdeu nas águas de um rio. E vários livros cheios de letras que lhe contavam estórias enquanto dançavam diante dos seus olhos.
A chegada de alguém interrompe seus pensamentos. São os tios e primos que vieram para o Natal. Muito riso e brincadeiras. O pai sempre alegre, a mãe tão carinhosa a casa cheia de gente e o perfume das comidas o faziam desejar que o tempo não fosse adiante. Lembra-se de ter pedido isso a Santa Claus. Pediu que o dia do Natal fosse sempre assim. E nem se percebeu que o tempo faz as coisas ficarem deferente. Um dia aquela bola de vidro com a paisagem natalina caiu e se quebrou. E o tempo tirou-lhe as sardas do rosto e o fez crescer. Deu-lhe barba, responsabilidade, mas manteve o mesmo sorriso e o mesmo olhar inquieto. Hoje ele olha uma árvore de Natal mais bonita e maior e pensa nas coisas que mudaram tanto. Ouve outros risos de criança, sente outros cheiros vindo da cozinha, mas não sente o peso da mão do pai em seu ombro nem ouve a risada da mãe lá na cozinha. Olha para os presentes embaixo da árvore. Não tem pião, nem bonecas de pano e nem mesmo o cavalinho de madeira... Um pouco decepcionado baixa o olhar e encontra uma bola de cristal com uma paisagem natalina. Lá dentro, brincando na neve fria está a Princesa que ele salvou do dragão. Ela o vê e sorri, abre os braços como se quisesse abraçá-lo. –“É Natal, meu amor!” ela grita –“Vem, vamos correr na neve, vem, eu te espero!”.
Ele esta tão ausente que não percebe os passos atrás de si até sentir o peso da mão em seu ombro e alguém chamando para a ceia de Natal. Ele, o Príncipe, olha novamente para a grande bola de cristal e a Princesa lhe joga um beijo e se vai. A neve continua a cair dentro da bola de cristal.

                            



MEUS SINCEROS VOTOS DE UM FELIZ E ABENÇOADO NATAL.



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Luciah Lopez
Enviado por Luciah Lopez em 23/12/2008
Reeditado em 30/12/2009
Código do texto: T1350083
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