A VIZINHA MISTERIOSA
Na casa ao lado, uma vizinha misteriosa havia se mudado há algumas semanas. Durante o dia, o silêncio predominava, mas à noite, tudo mudava. Carros luxuosos chegavam, pessoas bem-vestidas entravam e saíam, e festas pareciam tomar conta do ambiente. Os vizinhos observavam curiosos. Quem seria aquela mulher? O que se passava ali dentro?
As senhoras do bairro comentavam indignadas sobre a quantidade de roupas íntimas penduradas no varal – todas provocantes, de cores vibrantes, de diferentes tamanhos e estilos. "Que pouca vergonha!", diziam umas às outras. Já os homens do bairro apenas observavam, imaginando quem poderia ser a dona de tais peças.
O mistério crescia a cada dia. Raquel, como passou a ser conhecida, nunca saía durante o dia. Seu jardim estava sempre impecável, mas ninguém a via cuidando dele. As festas seguiam frequentes, sempre com pessoas desconhecidas. Intrigados, os vizinhos decidiram fazer uma visita, sob o pretexto de dar-lhe as boas-vindas.
As mulheres da rua se reuniram, prepararam um bolo e seguiram até a casa de Raquel. Ao tocarem a campainha, a porta se abriu suavemente, revelando uma mulher elegante, de olhar penetrante e sorriso encantador.
— Pois não? — perguntou, com voz suave.
— Somos suas vizinhas e viemos lhe dar as boas-vindas — respondeu dona Alzira, entregando o bolo.
Raquel sorriu e agradeceu. Observando o grupo à sua porta, convidou-as para entrar. Nenhuma delas hesitou.
A casa era magnífica, decorada com um luxo incomum para aquela vizinhança. Tapetes persas, lustres imponentes, móveis de época. As mulheres trocaram olhares discretos, maravilhadas e ainda mais curiosas.
— Que casa linda! — exclamou uma das vizinhas.
— Obrigada. Gosto de manter tudo em ordem — respondeu Raquel, dirigindo-se à cozinha para buscar o café.
Enquanto esperavam, as vizinhas cochichavam. Como alguém que morava sozinha tinha uma casa tão grande e luxuosa? De onde vinha tanto dinheiro? Por que aquele entra e sai de pessoas? O que significavam aquelas roupas no varal?
Quando Raquel retornou, trouxe consigo uma bandeja com xícaras de porcelana fina e um café com aroma irresistível. Sentaram-se na ampla sala de estar, saboreando o bolo e a bebida quente.
— E você, Raquel, trabalha com o quê? — perguntou dona Cecília, tentando disfarçar sua curiosidade.
Raquel sorriu de canto e respondeu calmamente:
— Eu sou empresária. Trabalho com arte... e colecionáveis.
As vizinhas se entreolharam. Arte? Colecionáveis? Antes que pudessem fazer outra pergunta, um ruído veio do andar de cima. Um som leve, porém perceptível, como passos arrastados.
— Você não mora sozinha? — perguntou uma das mulheres, tentando soar casual.
Raquel apenas sorriu e, sem responder, se levantou.
— Preciso resolver algo agora, queridas. Espero que tenham gostado do café.
O tom suave escondia algo que ninguém conseguia decifrar. As vizinhas se despediram, cada uma levando consigo ainda mais perguntas do que respostas. Ao saírem, viram um carro preto de vidros escuros estacionado na frente da casa. Um homem de terno desceu e entrou sem bater.
Os cochichos começaram antes mesmo de atravessarem a rua. O que acontecia naquela casa? Quem era realmente Raquel? E, acima de tudo... quem estava no andar de cima?
A resposta a esse mistério, no entanto, talvez fosse algo que ninguém estivesse pronto para descobrir.