Presença Silenciosa
Em uma noite fria de outono Alice acorda sobressaltada no meio da noite e ver uma mulher sentada na beira da sua cama. A mulher possuía um cabelo cumprido que cobria todo o rosto impedindo de vê-lo, ela vestia uma camisola branca que cobria todo o seu corpo e do seu rosto saia um rastro de sangue que manchava a camisola na altura do peito e dizia com uma voz quase inaudível; “Cuidado! Não atravesse”. Quando a Alice a viu pela primeira vez ela ficou totalmente horrorizada com aquela presença que emanava desespero e um alerta que não sabia decifrar. Ela olhou para aquela mulher se escondeu debaixo das cobertas e quando teve coragem de pôr a cabeça de novo a aparição fantasmagórica tinha ido embora. No outro dia Alice acordou mais tarde que o convencional que acordava e sua mãe foi a acordar a menina no quarto. Sua mãe Mirela chegou suavemente ao rosto de Alice e a beijou na face. Alice sentindo os lábios doces da sua mãe em seu rosto acordou assustada e segurou o pescoço de sua mãe com intensidade repentina. Mirela assustada devido ao comportamento enfático da filha perguntou o que tinha acontecido e Alice respondeu:
----- Mãe, ontem a noite havia uma mulher sentada na beira da minha cama ensanguentada.
----- Como assim, minha filha?
Retrucou a mãe apreensiva com a notícia.
------ Parecia mais um fantasma do que uma pessoa de fato eu fiquei completamente assustada com aquilo, não quero mais dormir nesse quarto sozinha.
------ Ela falava umas coisas bem estranha que não dava para entender.
Mirela imaginou que tudo aquilo fosse imaginação infantil da filha, já que ela só possuía doze anos de idade, mas mesmo assim acatou o pedido da menina e deixou que Alice dormisse junto com ela e seu marido no cantinho do quarto. Depois de uns dois meses dormindo junto da mãe, Alice já havia esquecido o ocorrido e vivia sua rotina tranquila e costumeira de sempre, dormindo novamente em seu quarto só. Porém em um dia quando voltava da escola, optou por seguir um caminho diferente que sempre fazia por um bosque a poucos metros da escola, seguia o seu caminho normalmente sentindo a brisa das árvores e o canto dos pássaros, quando viu uma árvore que nunca tinha visto antes por aquele caminho. A árvore possuía um tronco bem grosso e de dentro do tronco ela percebeu que saia um líquido vermelho e um choro baixinho vinha como se fosse por trás da árvore antiga e então ela mesmo com medo por está ali ela caminha em direção a árvore e ver a mesma mulher que tinha visto em sua cama naquela noite. A mulher estende a mão como pedindo ajuda e Alice só consegue ver os olhos aterrorizantes daquela figura e sai correndo em direção para casa.
Ela corre mais depressa possível como se sua vida dependesse de chegar segura em casa, não encontra ninguém dentro de casa e se esconde no seu quarto, com medo ela se enrola debaixo das cobertas e começa a rezar pedindo proteção e depois de muito lamentos ela adormece em sua cama. Mirela havia saído até a casa de uma amiga para tomar chá e não esperava a filha tão cedo de volta para casa já que as quartas – feiras ela sempre ia aos treinos de vôlei depois da escola. E então vai ao quarto da filha e a ver dormindo e não suspeita por que a filha está dormindo numa hora daquela quando ela não tem o hábito de dormir pela tarde. Porém ela acha estranho e decide não acordar a garota.
Alice havia dormido o dia inteiro e só acordara no outro dia e conta a história da mulher assustadora que agora havia visto no caminho de casa. A mãe quase cai para trás, pois já havia esquecido daquele incidente e pensava que tudo já tinha passado. Porém mal sabia Alice e Mirela que aqueles encontros iriam se repetir por muitos anos a frente. Mirela então decide levar a menina para ter um encontro com um padre da cidade, já que imaginava que essas aparições poderiam ser algo demoníaco. O Padre Damasceno escuta a mãe com muita paciência. E de modo calmo quase estático diz somente que sua filha devesse frequentar mais a igreja e as missas nos dias de domingo. O padre Damasceno era um padre bem antigo na paróquia, rechonchudo, tranquilo e brincalhão era bem acostumado com essas histórias de crianças e assombrações e não levou muito a sério aquela história e resolveu um problema com um descaso que resolvia tudo, minimizando os problemas dos outros.
No entanto Alice continuava assustada e passou dois anos de tratamento psicológico para esquecer aquele pesadelo e nunca mais havia voltado a ver aquele fantasma da mulher. Sua vida seguia o ritmo normal de volta e agora com quatorze anos ela se sentia mais liberta e dona da sua vida. Em um sábado suas amigas a tinham convidado para uma festa. E ela aceitou de prontidão ir, porém sua mãe estabeleceu as regras que voltasse antes das 22 horas daquela noite. Alice chegou na festa entusiasmada e desse modo ela curtiu, dançou e aproveitou todo o momento com seus colegas, porém quando ela dançava no meio do salão ela viu novamente a figura fantasmagórica da mulher que a estendia a mão como sinal de ajuda e suplicava por socorro. Quando a viu ela chamou a sua amiga que estava ao seu lado e perguntou se amiga também via aquela aparição, porém a amiga disse que não via ninguém ali e pensou que era brincadeira de Alice. Ela, no entanto, tentou se acalmar e foi tomar um gole de alguma bebida em outro lugar da festa. Ela comprou um suco que havia na barraca perto de onde estava, bebeu, respirou e quando começava a se sentir mais calma viu aquela mulher de novo ao seu lado e como alguém que sussurrava baixinho no seu ouvido disse: “Cuidado! Não atravesse, cuidado”. Ao sentir aquela presença ao seu lado novamente correu para fora da festa e ficou chorando por sua amiga lhe ajudasse.
Alice já não aguentava mais aquele ser sinistro em sua vida e aos quinze anos de idade, a sua mãe que já não suportava a sua paranoia, intransigência e violência a internou em um hospital de cuidados psiquiátricos. E desde esse dia que sua vida havia declinado a um sofrimento sem fim. Ela ainda a via constantemente em seus dias. A mulher sempre com a mesma aparência estava em sua cama quase todas as noites, no refeitório do hospital quando estava vazio, na capela quando estava em oração e nos seus sonhos sempre com a mesma súplica que para ela já parecia um mantra: “Cuidado! Não atravesse.” Alice já havia se conformado com aquela situação que parecia ser sua sina ter um fantasma a lhe perseguindo e sempre pedindo por socorro, e esse alerta era o que ela nunca entendia. Cuidado com o quê? Se perguntava Alice diariamente. Alice a via em quase em todos locais que ia e resignada com aquele destino ela não se amedrontava mais com as aparições. Muitos tratamentos foram tentados, Alice vivia em um estado de sedação onde não conseguia entender mais a realidade a sua volta. Terapias eram constantes em sua vida, porém ela não tinha mais interesse em conversas, por muitas vezes ela foi amarrada na cama em surtos e gritos eram ouvidos em todo o hospital. Em seu quarto escuro ela se esqueceu do brilho da luz e do calor do sol. Alice que um dia fora estava morta por dentro e só restava a sombra de quem ela foi um dia. Uma jovem com 20 anos de idade esquelética, os cabelos cumpridos negros sempre desgrenhado a tornava uma mulher com um ar desleixado e tinha uma aparência de um alguém de 35 anos ou mais, vivia um pesadelo acordada. E assim foi o tratamento de Alice até passado sete anos de internação naquele hospital e Alice agora com 22 anos de idade recebeu alta. Faziam 2 anos seguidos que ela não via mais aquela aparição e se recuperava em ritmo lento, porém se recuperando. Então os médicos perceberam que ela estava mais equilibrada e a mandaram para casa. Sua mãe se ofereceu para ir busca-la porém não quis ajuda já que culpava a sua mãe por tê-la colocado naquele hospital de saúde mental. E decidiu ir sozinha para casa. Andou por mais de quatro quarteirões em busca de um táxi que a levasse para casa, sempre cabisbaixa ela ia remoendo seus pensamentos e lamentando por sua vida, quando atravessou uma via movimentada o reflexo da luz do retrovisor de um carro parado ali próximo ofuscou os seus olhos e ela ficou impossibilitada de olhar por alguns segundos tempo suficiente para um ônibus atropelá-la, porém antes de morrer deitada no asfalto quente de uma tarde de verão ela viu a aparição pela a última vez que delicadamente tirou os cabelos de frente do rosto, o seu sangue congelou de tamanha surpresa e enfim ela percebeu que aquele fantasma, aquela aparição assustadora que havia a assustado por tanto tempo era ela mesmo a alertando para não ser morta em um cruzamento fatal. E finalmente ela entendeu que aquele alerta de “Cuidado”. Esse tempo todo ela corria da única pessoa que a tentava salva-la de um destino cruel de ser morta aos 22 anos de idade.
Davi Freitas - 16/12/2024