1206-DOM LEON

Chamava-se Leoncio Aguirre. Tanto eu como

Ivã não tínhamos muito conhecimento das pessoas mais idosas da cidade, pois estávamos residindo em Arroio Raso há pouco tempo.

Perguntei ao colega Saldanha, grande conhecedor de todo mundo no lugar.

— Leoncio Aguirre? É o maior fazendeiro do município. Gosta de ser chamado de Dom Leon. Boa conversa, mas tem umas manias engraçadas. É viciado em leituras de romances de todos os tipos e fala que um dia o homem dia o homem irá a Lua, que gente e gado que desaparece passa vivo pra outros mundos, umas coisas estranhas. Por isso não se dá muito bem com o Padre Belchior, mas sua mulher é muito religiosa...

O dia marcado para o churrasco era domingo. Aprontei-me com

aprumo, sem exagerar. Vestí uma calça de lã e camisa de algodão, de mangas compridas, pois o friozinho era uma constante nas coxilhas da região. Ivã, que era de Pernambuco, sentia mais frio, agasalhou-se com um paletó. E lá fomos, sem saber qual a razão do convite.

Familia grande, estavam lá todos os membros do clã: seu Leoncio, Dona Izabel, cinco filhos e suas mulheres, mais uma quantidade inumerável de crianças, netos e netas do casal donos da fazenda.

Dom Leoncio de estatura mediana, rosto comprido onde um grande bigode escondia a boca; olhos escuros e tez morena, como acontece com pessoas que vivem ao ar livre. Era idoso, pois os cabelos brancos e a barba grisalha indicava idade avançada.

Dona Izabel era alta, talvez fosse mais alta que o marido, rosto moreno e cabelos longos, muito pretos. Teria quantos anos? Cinquenta, cinquenta e cinco? Voz sonora e e modo de falar autoritário, me deu a impressão de que era ela quem dirigia a família.

Fiquei tão fascinado com o casal que pouca importância dei aos demais da família.

Comida excelente: carne de primeira, assada á moda gaúcha, uma galinhada e diversos outros pratos, regados a um bom vinho. Como sobremesa, delicioso doce chamado ambrosia que realmente fazia jús ao nome: um néctar digno dos deuses.

Assunto não faltou: fizeram-nos relatar mais de uma vez nossa “aventura” naquela noite, e ninguém debochou nem mesmo manifestou o mais leve descrédito.

Assentados, após o churrasco, no alpendre da casa, trouxeram café para mim e Ivã enquanto a maioria dos adultos tomava chimarrão, que diziam ser digestivo.

— Bem, seus moços, nós ouvimos a história de vocês, e como sou um dos mais velhos habitantes daqui - da cidade e da região - devo dizer que, ao contrário da maioria das pessoas, acredito nela. Por isso, convidei vocês dois para contar-lhes outra história.

Parou de falar e puxou um gole do chimarrão, que lhe passaram ás mãos. Senti um clima de suspense.

ANTONIO ROQUE GOBBO

Belo Horizonte, 06 setembro 2024

Conto 1206 da Série Infinitas Histórias

Cap. 6 da mini-novela “ Prdidos na Dimensão Z

Antonio Roque Gobbo
Enviado por Antonio Roque Gobbo em 15/12/2024
Reeditado em 15/12/2024
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