Minha melhor amiga.

Eu e minha amiga éramos inseparáveis, fazíamos de tudo juntas. Não lembrava quando ou como tínhamos nos conhecido exatamente; era aquela amizade de infância. Além de tudo, ela era minha estilista pessoal. Ela tinha estilo, ao contrário de mim, então sempre perguntava a ela o que deveria usar. Ela era boa em muitas coisas: simpática, divertida, sempre sabia o que dizer, extrovertida. E eu... eu era apenas uma garota órfã, que sequer lembrava direito dos pais e que morava com o tio.

Certo dia, nos arrumávamos pra ir à festa daquela noite. Estava ao telefone com minha amiga, pedindo sugestão do que deveria usar. Ela sugeriu meia-calça com short, alguma camisa que eu gostasse e sapatos que combinassem com o short.

Lá estou, no meu quarto, revirando tudo à procura da tal meia para compor o look do dia. Achei uma rosa. Tinha em mente usar a preta, mas coloquei a rosa enquanto pensava que não gostava de rosa. Por que raios, e em que momento, eu tinha comprado uma meia rosa? A meia estava cortada um pouco acima do joelho (é provável que eu tenha cortado, mas não conseguia lembrar o motivo ou quando tinha feito aquilo). Continuei minha missão, procurei uma saia que fosse até o joelho, assim não daria pra perceber a meia cortada. Olhei no espelho, e aquilo definitivamente estava horrível!.

Insisti mais um pouco na procura e achei mais algumas meias. Vi a preta que queria, porém era pequena. “Por que teria comprado uma meia pequena daquela? Ou era antiga?” Afastei os questionamentos inquietantes rapidamente e peguei a próxima meia, de cor bege, cheia de brilho. Coloquei. Era enorme, gigante, chegava até o pescoço. “Aquela meia era minha? Brilhante daquele jeito?”

Ainda estava usando a saia, com a meia até o pescoço, quando ouvi o bater da porta. Alguém estava entrando em casa. Em seguida, a pessoa abriu a porta do meu quarto. Era uma mulher. Ela olhou pra mim e entrou no quarto. Aquela devia ser a mulher que minha amiga tinha mandado pra se encontrar com meu tio. Ele era solteiro, e essa minha amiga tinha insistido em encontrar alguém pra ele contra a vontade dele, minha amiga falou que não era bom ele ficar sozinho pra sempre. Ali estava aquela mulher, que já chegou invadindo meu quarto.

Ela entrou e começou a falar alguma coisa sobre vestimenta e sobre amizade, mencionando a relação entre mim e minha amiga. E saiu. Meu tio estava passando pela porta, e ela se jogou nele como se o conhecesse há séculos. Onde raios minha amiga tinha conhecido essa pessoa? Não parecia ser alguém aleatório. Parecia conhecer a relação que eu tinha com minha amiga.

Pensei um pouco sobre o que a mulher tinha falado. Mas voltei a realidade, lembrei que ainda estava com aquela meia-calça, segurando ela até o pescoço, e já estava na hora de ir. Peguei uma tesoura e cortei ela na altura da cintura, tirei a saia, coloquei um short, uma camisa, sapato e saí correndo para a festa.

Ao chegar, olhei em volta e não encontrei minha amiga. Escutei alguém me chamando. Era uma conhecida. Me aproximei da mesa onde ela estava e me sentei. Começamos a beber e conversar. Em algum momento, fizemos um movimento sincronizado, o que achamos muito engraçado, e começamos a rir. Estava bem divertido.

Tarde da noite, minha amiga chegou. Quando a notei, ela estava me encarando. Ela andou na minha direção, me encarando, e se sentou do meu lado. Continuei conversando e bebendo até que, em certo momento, começo a me sentir aérea. Minha amiga deve ter percebido que eu já estava bêbada e disse que era hora de irmos embora. Ela me segurou pelo braço e me levantou. Apenas me deixei levar e me apoiei nela, já que meus olhos insistiam em fechar e meu corpo estava pesado.

Ela começou a andar, me arrastando junto, quando, de repente, parou ainda no local da festa e começou a conversar com uma mulher. Em uma altura da conversa a mulher disse:

— Então ela é a menina Blue.

Certamente estava falando de mim. Percebi que minha amiga ficou tensa; seus ombros se enrijeceram. Eu estava confusa. Como assim? Blue? Azul? Triste? Eu tinha feito alguma coisa que tinha ficado registrado com aquele nome?

Aquela pergunta reverberou de forma inquietante dentro de mim. De repente, surge na minha memória uma imagem: meus pais.

Em seguida, a imagem de uma garota de aproximadamente 10 anos, com uma espada, matando meus pais. Eu devia ter uns 4 anos, e chorava silenciosamente. Logo depois, ela apontava a espada para minha garganta e me obrigou a ir junto com ela.

A recordação veio tão rápida e feroz quanto um raio. A sensação de estar em perigo pareceu percorrer todo o meu corpo. Aquela garota...eu a conhecia, aquela garota era minha melhor amiga.

Francinagma
Enviado por Francinagma em 15/12/2024
Código do texto: T8219655
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