Sombras da Sexta-feira 13
Na pequena vila de São Martinho, cercada por florestas densas e trilhas sinuosas, todos conheciam a superstição da sexta-feira 13. Era um dia em que as janelas permaneciam fechadas, velas ardiam nos altares, e ninguém ousava atravessar a velha ponte do rio, especialmente se um gato preto fosse avistado.
Naquela sexta-feira específica, Isadora, uma jovem curiosa e cética, decidiu desafiar os antigos medos da vila. Trabalhava como repórter para um jornal local e planejava escrever uma matéria desmistificando as superstições. Equipou-se com sua câmera, um bloco de notas e uma lanterna, e partiu ao entardecer rumo à ponte do rio.
"As lendas só têm força para quem acredita nelas," murmurou para si mesma enquanto caminhava pela trilha.
Ao chegar à ponte, Isadora encontrou um cenário melancólico. A madeira rangia sob o peso dos anos, o rio corria silencioso e, ao longe, ouviam-se apenas os sons da floresta. De repente, ela avistou algo se movendo.
Era um gato preto. Seus olhos amarelos brilhavam como duas tochas sob a luz fraca da lanterna. O animal permaneceu imóvel, observando-a, enquanto Isadora, com nervosismo, registrava cada detalhe em sua câmera.
"Só um gato," pensou, tentando ignorar o calafrio que subiu pela espinha.
Mas, ao dar o primeiro passo sobre a ponte, algo inexplicável aconteceu. O gato soltou um miado longo e estridente, ecoando pela escuridão. A lanterna piscou e apagou. Isadora parou, sentindo uma presença fria e pesada ao seu redor.
Uma névoa densa surgiu do rio, envolvendo-a. Vozes sussurravam, como se centenas de pessoas estivessem ao seu redor, todas falando ao mesmo tempo. Isadora tentou voltar, mas seus pés pareciam presos ao chão.
De repente, a névoa tomou forma. Uma figura alta, envolta em um manto negro, apareceu no meio da ponte. Seus olhos eram tão brilhantes quanto os do gato.
"Você ousou cruzar a ponte das sombras na sexta-feira 13," a figura disse, sua voz reverberando como um trovão. "Agora carregará o peso de nossa maldição."
Isadora tentou gritar, mas nenhum som saiu. A figura estendeu uma mão ossuda em sua direção, e tudo ao redor desapareceu.
Quando Isadora recobrou a consciência, estava de volta à vila, caída na praça principal. Seu bloco de notas e câmera haviam desaparecido, mas uma estranha marca em forma de pata estava gravada em seu pulso.
Os moradores, alarmados, cercaram-na com perguntas, mas Isadora nunca contou o que realmente viu naquela noite. No entanto, semanas depois, ela começou a ouvir sussurros quando estava sozinha e a sentir sombras movendo-se ao seu redor.
A vila voltou a reforçar suas superstições, e Isadora, antes cética, tornou-se a guardiã da velha lenda. A cada sexta-feira 13, ela acendia uma vela na ponte, na esperança de manter as sombras afastadas, enquanto o gato preto continuava a vigiar de longe, seus olhos brilhando como uma lembrança eterna do ocorrido.
E assim, a lenda de São Martinho ganhou um novo capítulo — um aviso sombrio para os céticos que ousassem desafiar o mistério da sexta-feira 13.