O HOMEM E A ÁRVORE
Francisco, com o olhar perdido na vastidão de campos verdes e riachos que serpenteavam tranquilamente pelo interior do Rio Grande do Sul, sentiu-se tomado pela paz da paisagem. As folhas do mato dançavam ao vento, como se sussurrassem segredos do tempo e da terra.
De repente, algo chamou sua atenção. Mais ao longe, destacava-se uma frondosa árvore, imponente e solitária, como se fosse a guardiã daquele lugar. Havia algo nela – talvez sua presença majestosa, talvez a sombra acolhedora que projetava no chão – que parecia convidá-lo. Francisco sentiu como se a árvore estivesse chamando-o, não com palavras, mas com uma presença silenciosa e poderosa.
Ele caminhou até ela, cada passo aproximando-o de algo que parecia ao mesmo tempo familiar e misterioso. Ao chegar, parou diante do tronco robusto. Tocou a casca áspera, sentindo o pulsar de uma vida antiga e grandiosa.
Pensativo, inclinou a cabeça para trás e olhou para o topo da árvore, cujas folhas verdes dançavam sob o céu azul. A grandiosidade dela o fez refletir: "Como pode algo ser tão imenso e tão imóvel, enquanto eu, pequeno, vivo em constante movimento e inquietação?"
Com os olhos cheios de admiração, Francisco sussurrou para si mesmo:
— Tão grande é a árvore, e eu, Francisco, tão pequeno... Mas será que também posso crescer assim? Não em tamanho, mas em força, em raízes?
Ele ficou ali por um longo tempo, ouvindo o som do vento entre os galhos, como se a árvore respondesse às suas perguntas em sua própria língua ancestral. Foi então que Francisco percebeu: talvez o chamado daquela árvore fosse para lembrá-lo de que, como ela, ele também podia encontrar seu lugar no mundo, firmar suas raízes e crescer em direção ao infinito.
Neri Satter – Novembro de 2024 CONTOS DO SCARAMOUCHE