Era mais uma terça-feira comum na Escola Setembrina para os alunos membros do Clube de Leitura. Todos se reuniram após o almoço na biblioteca. Enquanto estavam se arrumando para iniciar o sarau, o professor Celso, vice-diretor responsável pelos clubes, passou na biblioteca para cumprimentá-los. Estavam lendo uma sequência de livros policiais e se reuniam semanalmente para comentar os capítulos lidos ou para fazerem sprints de leitura.
No dia seguinte, uma agitação diferente estava acontecendo na escola. Tinha polícia na Direção! A família do professor Celso estava lá bastante preocupada, pois o professor não retornou para casa. O seu carro dormiu no estacionamento. O seu celular estava desligado.
O clube de leitura começou a conversar por mensagens. Paulo estava bastante preocupado, pois o diretor era o seu melhor amigo nesta vida. Foi então que Marcos sugeriu que começassem uma investigação. Mas por onde começariam? Mateus sabia onde o professor morava. Iriam começar por lá.
Depois da aula, os amigos pegaram suas bicicletas e foram para o endereço indicado por Mateus. Era uma casa bastante bonita próxima ao Clube dos Casados. A rua estava um pouco deserta. Pararam em frente à casa e tocaram a campainha.
O filho mais velho do professor saiu para a garagem, perguntou aos meninos se sabiam de alguma coisa, mas os meninos sabiam menos que ele. Eles queriam saber da rotina do professor e se alguém da família havia notado algum comportamento estranho nele. Em princípio, estava tudo dentro da normalidade. Tomadas as notas, pegaram o contato do rapaz para eventuais dúvidas. O rapaz os precaveu de que isso poderia ser arriscado e que deixassem a investigação com a polícia.
Na manhã seguinte, o clube se reuniu em frente à escola. Paulo compartilhou um detalhe que havia se esquecido. Outro dia, ao entrar na biblioteca, ele tinha surpreendido o professor com uma papelada estranha, parecia papel antigo, que o professor fez questão de esconder quando o viu.
Marcos sugeriu que deveriam investigar a biblioteca e, quem sabe, procurar algo nos armários do professor. E para o caso dos armários estarem trancados, Mateus possuía acesso a uma chave do tempo que sua avó trabalhava na escola, e que poderia abrir qualquer armário. No entanto, ele só poderia trazer a chave no dia seguinte. Combinaram, então, de, no outro dia, se encontrarem na biblioteca no intervalo do almoço.
No dia seguinte, ao chegarem na biblioteca, encontraram o diretor geral na porta, que informou que a biblioteca ficaria fechada até o retorno do professor Celso. O sentimento de fracasso tomou conta do grupo, os meninos tentaram argumentar usando a finalidade do Clube para poderem entrar, mas foi em vão. Retornaram ao pátio e Marcos sugeriu que pegassem a chave da professora de Português para abrir a sala na hora do recreio e, nisso, “pegariam emprestada” a chave da biblioteca. E então, no fim da tarde, eles entrariam.
Chegou a tarde, e os meninos entraram na biblioteca. Sem acender a luz, encostaram um pouquinho mais as janelas e começaram a olhar em volta. Nas gavetas da mesa, não havia nada suspeito. Então, foram ao armário testar a tal chave de Mateus. O armário abriu. Mexendo cuidadosamente no material do professor, Marcos achou umas folhas que pareciam com papel pardo. Nelas tinha uns escritos em código e um mapa. Um olhou para o outro com o assombro no rosto.
Resolveram levar o material, acreditando que aquilo poderia ser a pista para o sumiço do professor Celso. E então Paulo se lembrou de que o professor Frota, em uma aula de História, havia comentado sobre sua facilidade com decodificação. Marcos observou que Frota poderia ser um bom aliado, e os demais concordaram. Guardaram cuidadosamente o material na mochila de Marcos, fecharam o armário e se dirigiram para a porta.
Perceberam que deveriam ter deixado um vigilante para auxiliar na saída, mas agora era tarde. Abriram a porta cuidadosamente e saíram, assim que Paulo guardou a chave no bolso, ainda próximo à biblioteca, o diretor geral apareceu de novo esbravejando pois já havia lhes informado do fechamento temporário da biblioteca. Marcos chamou os amigos para irem até sua casa para analisarem os documentos com calma.
Tomaram as bicicletas e foram para a casa do amigo. No quarto, Marcos tirou as folhas cuidadosamente de sua mochila e as espalhou entre os amigos.
Os amigos analisaram o texto em código e discutiram sobre um mapa nele contido. Paulo sugeriu que o melhor seria levarem o material para o Frota ver. Decidiram, então, mandar uma mensagem para o professor, pois achavam arriscado levar o material para a escola, caso houvesse mais pessoas envolvidas na situação. Frota lhes respondeu que estava em Viamão naquele dia visitando a mãe e que poderiam encontrá-lo lá.
Com a ajuda do professor Frota, conseguiram decodificar quase todo o documento. Ele era uma pesquisa sobre um artefato histórico da época da Revolução Farroupilha. Ainda sobre o artefato não tinham conseguido entender o que era. O professor Frota queria levar o documento para a polícia, mas a turma discordou, pois temiam que o segredo do professor Celso fosse roubado.
Ninguém dormiu direito nessa noite. Na escola, ainda bem cedo, todos, inclusive o professor Frota, já estavam reunidos. Passaram o dia se entreolhando com ânsia de falar sobre o assunto, mas dentro da escola deveriam manter a descrição. O professor Frota, depois de persistir na decodificação da parte em que descrevia o que seria o artefato, finalmente conseguiu. Todos foram avisados pelo grupo de mensagens.
No fim da tarde, reuniram-se em frente à escola e foram pedalando até a Caixa d’Água, onde fica guarnecida a padroeira da cidade. Não conseguiram acreditar que fosse ali que os artefatos estariam escondidos, mas, segundo o mapa, não restavam dúvidas. Estavam embaixo da Santa! Decidiram que retornariam na madrugada para tentarem abrir a caixa de vidro.
Às 2h todos estavam em frente à Santa. Parecia não haver ninguém mais andando pela cidade. Foi então que começaram a tatear em volta da Santa, por toda a parede envolta… até que uma pedra pareceu frouxa. Paulo chamou os amigos para verem a sua remoção. Por de trás, tinha uma alavanca que, quando acionada, abriu a porta da caixa onde a Santa estava. Foram até lá e, ao erguerem a Santa, avistaram uma espada e um livro. Frota pegou os artefatos, e os meninos fecharam rapidamente o local. Quando estavam prontos para se afastar, um carro sem placa e com os vidros todos muito escuros surgiu e os interrompeu. Desceram dois homens fortes e encapuzados que queriam os artefatos, mas Frota havia conseguido correr para trás da caixa d’água com os objetos. Os meninos disseram que não tinham encontrado nada! Que tudo era pista falsa! Mas os homens levaram o Paulo consigo.
Agora, a turma estava enrascada. Teriam que ir à polícia e contar a verdade, talvez meia verdade, já que iriam ocultar o encontro dos artefatos e a participação do professor Frota.
Na delegacia, os meninos tiveram de aguardar os pais chegarem para serem atendidos. A polícia achou tudo muito estranho, mas disse que iriam investigar, iriam olhar as câmeras de segurança da cidade para tentar ver o carro suspeito.
Todos ficaram de castigo sem ir à aula até o final da semana. Mas puderam conversar pelo celular. O estranho é que o professor Frota não os respondia. Os dias foram passando e ninguém sabia do professor Celso.
Enquanto isso, na noite de sábado, Frota se reuniu com a irmandade em que estava para ingressar, e apresentou os artefatos ao seu Grão-Mestre: o Diário e a Espada de Bento Gonçalves! Este Diário tinha que ser revelado, nele continha todas as informações acerca da Revolução, inclusive alguns segredos pessoais do General, dentre eles sobre ter deixado descendentes bastardos, cujos sobrenomes foram dados de outros soldados para que sua moral fosse preservada. E lá estava, como os de vários viamonenses, o sobrenome Castro Rocha, o sobrenome da família do professor Celso!
O grão-mestre da irmandade, que até então tinha sua identidade preservada, se revelou diante de todo o grupo e de Paulo. Para a surpresa de alguns, era o professor Celso!
— Professor Celso!!!
— Sim, e quero parabenizá-los por toda a investigação e por todo o processo até aqui. Esta espada do meu antepassado deverá ser entregue ao Museu do Estado e o diário também, mas os fatos que nos interessam neste serão estudados. Ambos estavam desaparecidos desde a morte do General.
— Mas por que o seu sumiço? Todos ficaram preocupados! E aqueles homens encapuzados? Para que tudo aquilo? Meus pais devem estar em pânico!
— Tudo tem o seu porquê. O Clube de Leitura, o professor Frota e todos os outros ex-alunos de nossa escola que foram escolhidos para a Irmandade do Saber passaram por provas de coragem, discrição e prontidão. Vocês tiveram a sua lealdade a mim à prova!
— Mas e a sua família? E a escola? O que todos vão dizer?
E, então, acenderam as luzes e os outros membros do Clube estavam lá. E todos os que estavam sob mantos escuros com capuzes cobrindo seus rostos foram revelados: os filhos do professor, o diretor geral da escola, muitos ex-alunos, alguns professores, inclusive os pais de todos os alunos do Clube de Leitura!
— Agora, todos vocês fazem parte da nossa Irmandade do Saber, irmandade secreta que estuda e pesquisa os fatos e os artefatos de nossa história. Busca a verdade e a valorização de nosso povo!