Esther 

 

Estação chuvosa na Amazônia, ainda não existia boa segurança nos voos, o piloto precisava possuir experiência para voar na região. Os voos só eram permitidos das seis às dezoito horas, e poucas companhias aéreas operavam na região. Nosso voo havia iniciado em Marabá, no Pará, com destino à Belém, voando em baixa altitude, possibilitando enxergar a copa das árvores bem próximas a asa do avião. O comandante Roland se orientava pelo leito dos rios, mas nos inspirava confiança. Assim, saboreávamos a bela paisagem amazônica... Voávamos há sessenta minutos, sem visualizar a cidade onde deveríamos pousar, antes de Belém. Falei com o comandante pedindo alguma explicação e fui informado que em virtude da precária visibilidade, havia mudado o curso do voo e que pousaríamos numa fazenda. Assim, a poucos minutos a aeronave pousou sobre a terra vermelha.

 

Ao entardecer, estávamos em terra firme, ouvindo explicações da tripulação e felizes por estarmos a salvo. Enquanto algumas pessoas, aflitas, reclamavam da sorte, eu me sentia envolvido numa feliz aventura. Leôncio, o proprietário da fazenda, informou haver acomodações para todos; os homens ficariam num amplo galpão aberto e as mulheres e crianças seriam hospedadas na casa grande. Às dezenove horas seria servido o jantar, e às sete da manhã, o café matinal.

 

A noite surgiu com uma forte chuva, com relâmpagos e trovões. Fui instalado num quarto com duas camas e banheiro e, sozinho deitei-me. Era meia-noite quando acordei ouvindo leves toques na porta. Levantei-me para atender e, uma formosa moça, de nome Esther, pediu-me para dormir em meu quarto, pois chegando tarde. não queria incomodar os outros hóspedes. Acolhi a moça, que prontamente tomou posse da cama ao lado. Deitado, observei seus graciosos e sensuais movimentos, ao despir-se naturalmente, sem pudor, deixando transparecer a perfeição do corpo esguio e jovial, qual os escultores sonham um dia criar. De sua pele exalava um suave olor, que me excitava. Seus olhos pareciam esmeraldas, quais joia rara, e tinha um sorriso fascinante. Ela me olhou com ternura, mas adormeceu. Achei tudo misterioso e mergulhei em seus encantos, parecendo-me um sonho dourado. Minutos depois, pensando no seu corpo sensual, adormeci.  

 

Despertei com o gorjeio dos passarinhos, quando percebi a cama de Esther, vazia. Saí a procurá-la, em vão. Lembrei-me do café matinal, mas por lá, também não a encontrei. Corri em volta da casa na esperança de vê-la, mas só encontrei Leôncio, que sorrindo perguntou:  O que deseja meu caro jovem? –Preciso falar com Esther. Pensativo, ele respondeu: eu tinha uma filha com esse nome, que faleceu em Salvador, onde morava e estudava medicina. O quarto onde você dormiu era o que ela ocupava quando aqui vinha de férias. — Eu a amava tanto! Creio que a saudade me faz materializar sua indelével imagem, afirmou Leôncio.  Fiquei surpreso com a revelação. Quando mais tarde, me dirigi para o embarque, de repente senti meus olhos pejados de lágrimas... olhei pela janelinha do avião e ao longe enxerguei Esther, acenando e sorrindo, com ternura, para mim. No semblante trazia a doçura, mas do coração proferia tristeza. Incrivelmente, chorei de saudade e na lembrança guardei para sempre sua luminosa imagem.

 

 

 

 

 

 

 

Antonio de Albuquerque
Enviado por Antonio de Albuquerque em 12/11/2024
Reeditado em 14/11/2024
Código do texto: T8195507
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