Pietra: A Alma Turva
No crepúsculo sombrio, o vento glacial uivava como um lobo dilacerado, arranhando a janela do consultório de Pietra, a doutora de alma consumida pela escuridão. Sua existência era uma dança macabra com a morte, uma valsa lenta e dolorosa.
Aos dezessete anos, ela encontrou seu grande amor, a psicologia, em um encontro marcado pelo destino em uma biblioteca silenciosa e sepulcral. Nesse mausoléu de sabedoria, Pietra buscou refúgio das trevas que a assombravam, como uma alma condenada. Pensamentos suicidas, como abutres negros e vorazes, pairavam sobre sua cabeça, sussurrando tentações mortais.
Mas então, ela esbarrou em um livro de Sigmund Freud, na seção B14, um encontro que mudaria o curso de sua vida, mas não a salvaria da sua própria desesperança. Como um farol em uma noite tempestuosa, as palavras de Freud iluminaram o caminho de Pietra, revelando que seus demônios não eram criaturas externas, mas sim habitantes do seu próprio inconsciente.
Aos 25 anos, Pietra era uma brilhante psicanalista, mas sua alma estava velha e cansada. Ela se achava derrotada pelas sombras que a perseguiam. A psicologia se tornou sua cruz, um fardo que ela carregava com resignação. Ajudava os outros, mas nunca a si mesma.
Mas naquela segunda-feira, Pietra decidiu que teria outra vida. Acordou cedo, enfrentou o trânsito, chegou ao seu consultório com uma hora de antecedência. Abriu a primeira gaveta de uma escrivaninha que compunha o ambiente, sacou um 38 e estourou sua cabeça. A alma turva de Pietra partiu para encontrar a paz que Freud nunca lhe deu.
Foi ela ou seus demônios que puxaram o gatilho? Ou foi a própria vida que a abandonou? A resposta permaneceu no silêncio, enquanto o vento continuava a uivar, como um lamento fúnebre.