Lendas da Patagônia

Nas Américas, existe uma grande variedade de raças, etnias e culturas dos povos originários no continente, os ameríndios.

Alguns são amplamente conhecidos, outros se mantiveram muito isolados e preservaram bem sua cultura, como os Yanomami, enquanto outros não tiveram tanta sorte e desapareceram.

A questão é que todas essas terras são vastas e possuem uma história igualmente extensa, o que contribui para uma grande diversidade cultural.

Também existiram muitas lendas e mitos que acompanharam esses povos.

E algumas dessas lendas deste continente estão na região da Patagônia, que permaneceu bastante isolada e distante da influência europeia durante a colonização das Américas.

A Patagônia, uma das regiões mais fascinantes e remotas do mundo, e não é só conhecida por suas paisagens e clima gélido, pois sua riqueza cultural presente nas lendas da Patagônia, assim como em outras partes do mundo, não são apenas história contadas de geração em geração.

Essas histórias são a essência viva da tradição e da cultura local.

Inicialmente é importante destacar que as lendas da Patagônia refletem a diversidade de povos que habitaram e ainda habitam essa região.

Desde indígenas aos colonizadores europeus, cada grupo trouxe um repertório de narrativas que foram se mesclando ao longo do tempo.

Dessa forma, estas lendas têm um papel significativo na preservação do patrimônio natural da região.

Isso se deve ao fato de que muitas dessas histórias estão ligadas a elementos da natureza, como montanhas, lagos e animais, com a que veremos agora...

INTRO

O lago Nahuel Huapi é um dos mais profundos e misteriosos da Argentina, e há séculos abriga um enigma que desperta a curiosidade e a imaginação de todos os que o conhecem. Pois de suas águas nasceu a lenda do Nahuelito que remonta a histórias de antigos povos indígenas e relatos de moradores locais, turistas e até de pesquisadores.

O lago é de origem glacial com 550 quilômetros quadrados, situado a cerca de 700 metros acima do nível do mar a pouca distância da fronteira com o Chile.

É margeado pelo Parque Nacional homônimo e pela famosa cidade turística de San Carlos de Bariloche.

Uma curiosidade sobre a água desse lago, é que ela é potável, pois é de origem glaciária, ou seja, não tem despejo de esgoto, não possui detritos plásticos, entre outros dejetos.

O lago também se destaca por sua profundidade, sendo que a máxima alcança os 450 metros.

Em mapuche, o idioma dos nativos habitantes da região de Bariloche, Nahuel Huapi significa "Ilha do Jaguar" ou "Ilha do Puma", em citação ao que hoje é a Isla Victoria, uma das principais atrações do parque, junto com o Bosque de Arrayanes e com o mítico Nahuelito.

O Nahuelito

Já o nome Nahuelito vem da fusão de "Nahuel" ou seja: tigre ou onça, na língua mapuche com um diminutivo “lito” usado na região, algo como o nosso “inho”.

E assim Nahuelito designa essa criatura aquática, muitas vezes descrita como semelhante ao famoso monstro do Lago Ness, da Escócia.

Relatos sobre o Nahuelito começaram a se intensificar nos anos de 1920, mas se sabe que as histórias da criatura já existiam muito antes disso, pois eram transmitidas oralmente entre os nativos mapuches e mais tarde entre colonos europeus.

Mesmo as histórias sendo vagas e variando de testemunha para testemunha seus encantos sempre as mantiveram no imaginário popular.

Alguns descrevem a criatura como um enorme peixe, enquanto outros afirmam que Nahuelito possui traços mais reptilianos, com um corpo alongado, similar a um plesiossauro.

Há quem diga que ele possui uma cabeça larga e nadadeiras grandes, o que faz lembrar outros animais aquáticos pré-históricos.

Sua pele, conforme alguns relatos, seria escura e coberta por escamas ou algo parecido, mas a maioria das descrições menciona apenas visualizações rápidas, pois o monstro raramente se expõe.

Alguns dizem que se alimenta de animais que vão beber água na margem do lago, outros relatam que é apenas uma espécie subaquática desconhecida que sobreviveu à era dos dinossauros.

Além disso, há aqueles que acreditam que Nahuelito é o resultado de anos de experimentos nucleares na região que acabou gerando mutações em algum animal.

Registros

Os Tehuelche, povos nativos da região, já mencionavam uma criatura chamada "El Cuero", que se assemelhava a uma grande arraia e era temida por arrastar crianças para as profundezas do lago. E com a chegada dos colonizadores europeus, relatos sobre o monstro começaram a se espalhar, incorporando elementos de diferentes culturas e aumentando o mistério em torno de sua existência.

Esses relatos antigos contribuíram para a formação da lenda moderna de Nahuelito, e, aproximadamente em 1910, foi realizada a primeira expedição em busca de desmistificar a lenda, sendo conduzida por George Garrett, um gerente de uma empresa de navegação.

E, segundo ele, a cerca de 400 metros da costa, ele conseguiu ver o Nahuelito, cujo comprimento era de mais ou menos 6 metros, isso só aconteceu porque a besta aquática emergiu da água, chegando, neste salto, a ficar a 2 metros acima do nível do lago.

Já na década de 1920, o minerador americano Martin Sheffield descreveu ter visto uma criatura com um pescoço longo de cisne e movimentos ágeis, semelhantes aos de um jacaré.

Martin Sheffield então enviou essa descrição ao diretor do Zoológico de Buenos Aires, Clemente Onelli, que organizou expedições para investigar a criatura.

Além dessa expedição organizada por Clemente, muitas outras vasculharam o lago na esperança de encontrar a criatura, pois, era uma época em que muitas pessoas relatavam ver algo incomum naquelas águas.

Porém, nenhuma prova conclusiva foi obtida nessas tantas buscas.

Depois, nos anos 1960, testemunhos de sua aparição começaram a surgir com maior frequência, pois, vários pescadores locais relatavam encontros com a criatura, descrevendo-a como "algo enorme" que se movia rapidamente na superfície do lago que chegava a criar ondas.

Alguns afirmaram que ela parecia seguir os barcos, mas nunca se aproximava o suficiente para ser vista de forma nítida o suficiente para finalmente comprovar a existência de Nahuelito.

Em 1988 aconteceu um caso marcante, quando uma família de turistas que, enquanto passeava de barco, afirmou ter visto Nahuelito subindo à superfície a cerca de 20 metros de distância.

Segundo eles, a criatura era "incomensuravelmente grande" e fez com que o grupo assustado voltasse imediatamente à costa.

Este relato ganhou a atenção da mídia argentina, e jornais locais publicaram a história, reavivando o interesse público no ser mítico.

Mais recentemente, em 2015, um turista fotografou o que seria o animal, o senhor Néstor González Villarreal caminhava pelas margens, quando, às 07 horas e 45, viu que algo estranho cortava a água do lago e se movimentava com muita rapidez, tinha o corpo cilíndrico e era muito grande.

Com seu celular, ele tirou as fotos e depois enviou ao jornal local El Cordillerano, que publicou uma foto.

(https://cdn.acritica.net/img/pc/920/600/dn_noticia/2015/03/287a5f2bf409f574e712a9d5a1fd4104.jpg)

Muitos leitores do jornal o contaram, dizendo que aquilo na foto se tratava de Nahuelito.

As Teorias

As teorias para explicar o Nahuelito variam tanto quanto as histórias contadas sobre ele.

Alguns sugerem que o lago esconde uma espécie de peixe gigante, como um esturjão, que pode facilmente ser confundido com uma criatura mítica por causa de seu tamanho e movimento.

Outros acreditam que possa ser uma espécie não identificada de réptil aquático.

E, claro, tem aqueles que acreditam que seja um dinossauro que, de algum modo, sobreviveu até os dias atuais.

Há também teorias que envolvem fenômenos naturais, como redemoinhos e correntes, que poderiam criar ilusão de criaturas na superfície da água.

Como o Lago Nahuel Huapi é extremamente profundo e possui áreas pouco exploradas, esses fenômenos poderiam explicar as "aparições" misteriosas que assustam os moradores e visitantes.

Mídia

A lenda de Nahuelito é tão siginificativa que se tornou um símbolo da cidade de San Carlos de Bariloche, localizada nas proximidades do lago. O monstro atrai turistas de todo o mundo, interessados em explorar a beleza natural da região e ouvir histórias sobre a criatura.

Bariloche até possui um parque dedicado a Nahuelito, o que reflete a importância cultural da lenda para a comunidade local.

Muitas agências de turismo incluem histórias do monstro em seus passeios e até oferecem "expedições" para tentar avistar a criatura.

Embora não haja nenhuma prova concreta de que o Nahuelito realmente exista, a lenda continua viva, alimentada por novos relatos e pela imaginação de quem visita o Lago Nahuel Huapi.

Assim como outros mistérios aquáticos pelo mundo, o Nahuelito provoca fascínio e traz consigo a ideia de que talvez ainda existam segredos nas profundezas dos lagos.

LENDA DOS GIGANTES DA PATAGÔNIA

Outra importante lenda da Patagônia é sobre o mítico povo originário ou a primeira raça de humanos da Patagônia.

O descobrimento ou avistamento desse povo nos leva à circum-navegação de Fernão de Magalhães, quando a expedição passou pela América do Sul, mais especificamente pela Patagônia. Um membro da tripulação, o italiano Antonio Pigafetta, relatou e documentou o encontro entre os espanhóis e um suposto gigante da seguinte forma:

“Passaram-se dois meses antes que víssemos qualquer habitante daquela região. Um dia, quando menos esperávamos, apareceu um homem de estatura gigantesca, quase nu, cantando e lançando areia sobre a cabeça. O comandante enviou um marinheiro à terra, com ordens para repetir os mesmos gestos em sinal de amizade e paz, o que foi compreendido, e o gigante deixou-se conduzir tranquilamente a uma pequena ilha onde estava o comandante. Eu e outros nos encontrávamos ali. Esse homem era tão alto que a sua cintura estava ao nível de nossas cabeças. Era bem formado, com o rosto largo, tingido de vermelho, com os olhos contornados de amarelo e duas manchas em forma de coração nas bochechas. Seu cabelo, escasso, parecia ter sido polvilhado com algum tipo de pó. Seu traje, ou melhor, sua capa, era feita de peles costuradas de um animal que abundava na região, como tivemos a chance de ver depois.”

Após esse avistamento, esse povo ficou conhecido como Patagão ou Patagones, em referência aos seus grandes pés e às pegadas enormes que deixavam na terra. Mais tarde, essa denominação deu origem ao nome “Patagônia”, como conhecemos hoje.

Após a viagem de Fernão de Magalhães, outros avistamentos desses gigantes foram relatados por diversos navegantes.

Em 1579, uma expedição liderada pelo pirata inglês Francis Drake afirmou ter visto homens de grande altura na Patagônia.

Cerca de 11 anos depois, outro inglês, o navegador Anthony Knivet também afirmou ter visto cadáveres de homens muito grandes, com cerca de 3,7 metros.

Dez anos depois, o navegador britânico William Adams relatou que sua tripulação teve um confronto com homens muito altos na região.

Finalmente, em 1766, uma frota da Marinha Real Britânica, comandada pelo comodoro John Byron, encontrou uma tribo de homens muito altos; porém, na descrição que deram, esses homens tinham cerca de dois metros de altura, o que, embora fosse alto, não era gigantesco.

Essa descrição, mais contemporânea, diverge das descrições anteriores que falavam de homens com três a quatro metros de altura.

Após esses tantos avistamentos, a conclusão de muitos historiadores e geógrafos foi que a história dos gigantes patagônicos era uma exageração.

Além disso, na época, entre os séculos 16 e 19, a altura média dos europeus era cerca de 1,5 metro, enquanto a dos ameríndios tehuelches e aonikenk, que habitavam essa região, como descreveu John Byron, era aproximadamente de dois metros, o que poderia ter causado confusão entre os europeus.

Mas, mesmo assim, ainda existe a teoria de que esse povo era, de fato, uma raça humana totalmente distinta da raça de gigantes encontrada anteriormente, que tinha sido extinta misteriosamente entre os séculos 16 e 17.

Por hoje é só...

Fontes:

https://www.serargentino.com/pt/pessoas/lendas-urbanas/quem-e-o-nahuelito

https://www.acritica.net/editorias/geral/homem-fotografa-a-versao-argentina-do-monstro-do-lago-ness/140138/

Nilvio Alexandre Fernandes Braga
Enviado por Nilvio Alexandre Fernandes Braga em 01/11/2024
Código do texto: T8187396
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