ELA TODA DE PRETO
Morávamos num bairro de classe média alta pouco habitado da cidade de Manaus.
Nossa rua, era sem saída, e deveria ter umas trinta casas e os vizinhos pouco se falavam.
Havia uma casa grande que ficava praticamente no fim da rua que há muitos anos estava desabitada. Diziam que era briga de família, que o marido havia sumido com a esposa e ido embora e ninguém sabia para onde, e os três filhos estavam brigando pela herança, porém ninguém e nem os filhos sabiam do paradeiro do pai nem da mãe e a casa abandonada por vários anos.
Certo dia de outono ao entardecer, Antonino e sua mãe, a fofoqueira da vizinhança, estavam sentados na calçada quando, de repente, um carro escuro, segue até o final da rua e para em frente da tal casa. Uma mulher, vestida de preto desce com uma mala e uma lanterna na mão, empurra o portão enferrujado, sobe as escadas cheias de folhas e sujeira, destranca a porta e entra na casa.
Ela consegue ligar a energia e luzes se acendem de uma vez.
Os vizinhos estupefatos, ficam curiosos para saber quem era essa mulher que havia chegado e entrado naquela residência depois de tantos anos sem ninguém.
Seu nome era Elza e voltara quando soube da morte do seu marido Oséas.
Oséas era completamente apaixonado pela mulher que era de uma beleza estonteante. Era vinte anos mais velho do que ela e a tirou aos 14 anos de idade de uma fazenda, lá pelas bandas da divisa com o Peru. Tiveram os filhos, um seguido do outro, e aos 17 anos era mãe de três meninos. Ela soube criar muito bem os filhos e o pai com o dinheiro que tinha, mandava os rapazes estudar fora.
Certo dia teve um baile na cidade onde as famílias abastadas foram convidadas. Elza, que mal saia de casa, pois o marido não permitia, foi ao tal baile, pois fazia parte do metier. Ela estava belíssima aos 43 anos, que aparentavam 30, cheios de vida e vontade de amar e ser amada. Entre os convidados um lindo e fascinante desconhecido a olhou, enquanto seu marido conversava com outros, e nem percebeu.
Aquele olhar foi como uma estrela que caiu sobre os dois, um encontro de almas. Ela tremeu dos pés a cabeça. De repente conseguiu sair de perto do marido e desapareceu com o rapaz. Ninguém mais os viu. Quando Oséas se deu conta ela não estava mais em lugar algum. Ele largou tudo e foi atrás dela, andou pelos quatro cantos do mundo e nunca a encontrou e nem voltou mais para casa, até morrer enlouquecido.
Vinte anos se passaram e Elza retornava, ainda linda, toda de preto.
Em homenagem ao Dia do Poeta, 20 de outubro.
Gratidão e Parabéns a todos os Poetas pela leveza d ‘alma. Amém.