O Catador de Latinhas
O bairro era antigo, com casas grandes e muros altos. Por suas ruas caminhava um catador de latinhas, um homem simples, que recolhia latinhas e garrafas PET. E batia de porta em porta, pedindo água ou um pedaço de pão, sem causar maiores incômodos.
Certa manhã, o sol estava forte, e sua garrafa estava vazia, e ele avistou uma casa nova em seu caminho. Caminhou até o portão e tocou a campainha. Foi atendido por uma mulher, que segurava o carrinho de bebê, onde estava uma criança pequena. O bebê usava aparelhos, um tubo passava por seu nariz, e sua aparência frágil tocou o seu coração.
— Senhora, o que houve com o seu bebê, qual o nome dele? Perguntou, com a voz embargada pela emoção.
A mulher olhou para ele com desdém, sua voz era fria e impaciente.
— Você vem na minha casa me incomodar e ainda quer saber o que há com o meu filho? O nome dele é Rafael e ele está doente, muito doente, tem leucemia.
O que você poderia fazer por ele?
Ele ficou sem jeito, triste, sentiu-se novamente humilhado, mas, passava pir isso diariamente, mas, não perdeu a compaixão que sentia. Seus olhos se encheram de lágrimas, e ele baixou a cabeça.
— Desculpe, senhora, pelo incômodo. Eu só ia pedir para encher minha garrafinha de água. Mas creia, seu filhinho, o Rafael vai ficar bem.
A mulher, ainda contrariada, bateu a porta, sem se importar com suas palavras.
Alguns dias se passaram, e naquela casa onde a tristeza parecia reinar, um milagre estava prestes a acontecer. Naquela manhã, quando a mãe entrou no quarto para ver o bebê, ela encontrou o filho fora do berço, brincando no chão, com uma energia que ela nunca tinha visto. A criança estava radiante, rindo e correndo pelo quarto. A mãe ficou paralisada, sem acreditar no que via.
— Meu Deus! Rafael! — gritou ela. — Como isso é possível?
Ela chamou os parentes, os médicos e fez uma grande festa para celebrar a saúde de seu filho e era o seu aniversàrio. A criança, que lutava contra a leucemia, estava completamente curada. O milagre era evidente, mas ninguém conseguia explicar como ou por que havia acontecido.
À noite, depois da festança, enquanto a mãe colocava o filho para dormir, ele olhou para ela com curiosidade e perguntou:
— Mãe, quem era aquele homem de branco que bateu à nossa casa pedindo água?
A mulher franziu a testa, sem entender.
— Homem de branco, meu filho? Era um mendigo sujo, um catador de latinhas. Nada tinha de branco ali.
O menino balançou a cabeça com firmeza.
— Não era não, mamãe. Ele era um rei. Tinha até coroa dourada na cabeça!
Aquelas palavras ecoaram no coração da mulher, que caiu em prantos, lembrando-se do homem humilde que havia tratado com tanto desprezo. Algo nela mudou naquele instante. Com o coração arrependido e tocado pelo mistério, ela começou a ver o mundo com outros olhos, carregando para sempre a lembrança do "rei" que havia visitado sua casa.