A Graça no Subsolo
Era uma noite tranquila, naquele Shopping, ou pelo menos parecia ser. O silêncio no subsolo era quase absoluto, exceto pelo eco distante de passos apressados de um rapaz descendo as escadas, visivelmente desesperado.
O jovem trombou com um homem negro, muito alto e forte, parecia um armário, e caiu no chão.
No impacto, um objeto metálico caiu no chão. Era uma arma.
O rapaz, rápido como um relâmpago, pegou a arma e, trêmulo, levantou-se e apontou para aquele homem uniformizado e disse: "Fica na sua, me deixa ir embora ou então já sabe!" — a voz dele estava carregada de desespero.
O homem calmo diante da ameaça, olhou profundamente nos olhos do rapaz. Ele não sentia medo, mas sim uma estranha compaixão. "Filho," disse ele, sua voz serena e firme, "você é muito novo, e Jesus te ama! Não vou te impedir de ir embora. Só quero te dizer uma coisa: Deus não se agrada dos seus caminhos! Você sabe de quantos livramentos Ele já te deu! Ele sabe também da sua vida, dos seus pais, dos seus irmãos, de todo o mal e necessidades que vocês viveram, de tudo o que vocês passaram; e manda te dizer que Ele não é o responsável pelos males que vocês vêem e vivem nesse mundo. Um dia você saberá, e esse dia está chegando! Mas agora, Ele manda te avisar: acerta os seus caminhos, pois Ele não vai continuar te protegendo. Ele vai te dar um último aviso em breve, e depois desse, não haverão outros!"
O jovem bandido hesitou, suas mãos tremendo enquanto segurava a arma. Algo nas palavras o tocou profundamente, uma sensação estranha, como se houvesse algo muito maior naquele momento. Ainda sem saber como reagir, o rapaz recuou, abaixou a arma e correu para o carro onde seus comparsas já o esperavam, chamando-o com urgência.
Enquanto saíam do shopping, o som das sirenes da polícia cortou o ar. O carro dos bandidos deu de cara com uma viatura, e em instantes, o caos se instalou. Uma intensa troca de tiros se seguiu. Não ia ser tão fácil sair do Shopping com tantas jóias caras!
No fim, apenas o jovem sobreviveu, mas estava gravemente ferido. Quando foi levado ao hospital, a imagem daquele gigante e suas palavras não saíam de sua mente. "Jesus te ama... Deus não se agrada dos seus caminhos... o último aviso..." ecoava em seus pensamentos como uma sentença inescapável.
Mesmo preso ao leito hospitalar, à beira da morte, aquelas palavras continuavam a alertá-lo em seus sonhos. Sentia-se atormentado pela sensação de que algo maior estava em jogo, algo que ele ainda não compreendia completamente.
Quando finalmente se recuperou, foi preso por conta dos crimes que havia cometido, mas, por ser menor de idade, a justiça determinou sua liberação em pouco tempo. Contudo, as palavras e a imagem daquele homem ainda ecoavam em sua alma, como se ele tivesse sido marcado para sempre por aquele encontro.
Assim que foi liberado, o jovem sentiu um desejo ardente de encontrar o segurança novamente. Queria entender o que significavam aquelas palavras, aquela presença paterna e de paz que ele não conseguia esquecer, pois, nunca ninguém havia preocupado-se com ele, ninguém nunca disse que o amava, nunca teve verdadeiramente um pai amoroso e viu tudo isso uma única vez em poucos segundos. Dirigiu-se ao shopping, determinado, e ao chegar lá, abordou um dos seguranças no local.
“Amigo, gostaria de falar com o segurança do estacionamento, aquele de uns dois metros de altura, negro, que trabalha lá embaixo,” disse ele, com os olhos fixos, quase desesperados.
O segurança do shopping franziu o cenho, confuso, e depois riu levemente. “Como assim, menino? Lá embaixo nunca teve seguranças... só câmeras. Tá tudo bem com você, aconteceu alguma coisa?”
O jovem congelou. O que isso significava? O homem com quem ele falara... a quem ele apontara uma arma... quem era ele, afinal? Ele sabia o que havia visto, o que havia sentido. E agora, a verdade o atingia como um trovão. Algo sobrenatural havia ocorrido naquela noite. Deus, de fato, lhe dera um aviso... um último aviso.
Assustado, mas agora com uma fé tremenda em seu coração, o rapaz saiu do shopping, consciente de que sua vida nunca mais seria a mesma. Ele sabia que precisava mudar, pois Deus realmente o estava observando, oferecendo-lhe uma última chance para acertar seus caminhos.