A lancha balançava com o ritmo suave das ondas, enquanto o detetive Artur Medeiros olhava para a silhueta da ilha ao longe. Ela se erguia no horizonte como um monstro adormecido, envolta em neblina e com uma reputação que assustaria até os mais valentes. Ilha Perdida, como a chamavam, carregava histórias de naufrágios, piratas e, o mais intrigante, de um fantasma que nunca deixava seus visitantes em paz.

 

Artur havia sido chamado até ali após o desaparecimento misterioso de um grupo de arqueólogos. Todos os sinais indicavam que algo mais do que o isolamento da ilha estava em jogo. Talvez fosse superstição local, mas ele sabia que algo incomum acontecia ali.

 

Quando finalmente desembarcou na praia, o silêncio era perturbador. As árvores se curvavam em direção ao oceano, como se estivessem tentando fugir da terra. A única coisa que se movia era o vento, carregando com ele sussurros que pareciam distantes, mas sempre próximos. Artur ajustou seu chapéu, olhou ao redor e seguiu em direção ao acampamento abandonado dos arqueólogos.

 

As tendas estavam intactas, mas não havia sinal de vida. Nada além de pegadas que desapareciam na vegetação densa. Enquanto analisava os detalhes, ele ouviu uma risada abafada, fraca, quase como um eco de criança. Viu uma sombra no canto do olho, mas quando se virou, não havia nada.

 

— Estou imaginando coisas... — murmurou para si mesmo.

 

Mas a risada voltou, mais alta desta vez. Artur seguiu o som, seus pés afundando na areia até chegar a uma clareira. No centro, havia uma árvore gigante, com raízes retorcidas e um rosto esculpido no tronco, como se estivesse rindo dele. E então, sem aviso, algo puxou seu chapéu.

 

— Ei! — exclamou, girando rapidamente, mas não havia ninguém.

 

De repente, o vento parou. O silêncio caiu como uma cortina, e Artur sentiu uma presença. Algo o observava. A risada voltou, e dessa vez era nítida: um som infantil, cheio de travessura.

 

— Quem está aí? — exigiu, tentando esconder o arrepio que subia pela espinha.

 

— Não vai me encontrar se não souber brincar... — disse uma voz suave, quase como se o vento tivesse falado.

 

Artur franziu o cenho. Um fantasma brincalhão? Essa era nova. Seguindo o som, ele caminhou até uma caverna escondida atrás das árvores. O ar dentro dela era denso e úmido, e os sussurros pareciam aumentar à medida que ele avançava. De repente, uma figura translúcida apareceu diante dele. Um garoto, não mais que 12 anos, flutuava alguns metros à frente, com um sorriso travesso no rosto.

 

— Você é real? — Artur perguntou, a lógica desafiada pela visão surreal.

 

— Mais do que você pensa, senhor detetive. — O garoto flutuou em volta de Artur. — Eu sou Jorge, e estou aqui há muito, muito tempo. Gosto de brincar com quem aparece na ilha. Alguns não gostam, mas você parece divertido.

 

— Foi você quem fez os arqueólogos desaparecerem? — perguntou Artur, sentindo um calafrio ao ver a facilidade com que o garoto fantasma se movia.

 

— Não! Eles foram embora porque encontraram algo que não deviam... — Jorge deu uma risada alta, o eco se espalhando pelas paredes da caverna. — Mas eu ajudei, claro. Tinha que assustá-los antes que eles descobrissem o grande segredo da ilha.

 

Artur sentiu uma onda de adrenalina. O que quer que os arqueólogos tivessem encontrado, era algo valioso. E o fantasma sabia o que era.

 

— Que segredo é esse?

 

Jorge flutuou até ele, o rosto agora sério.

 

— A ilha guarda mais do que tesouros perdidos. — O garoto se inclinou, sussurrando como se temesse que alguém mais estivesse ouvindo. — O que eles procuravam estava enterrado sob a árvore. Mas eu te digo, não foi enterrado por mãos humanas. E aqueles que tentam tirar... bem, não vivem para contar.

 

Artur sentiu o peso das palavras do garoto. A árvore gigante com o rosto esculpido. Algo estava escondido ali.

 

— Quer brincar, detetive? — Jorge sorriu novamente, mas agora seu sorriso parecia mais sombrio.

 

Artur hesitou. Seguiria o fantasma, mergulhando nos mistérios da ilha, ou sairia daquele lugar amaldiçoado? Antes que pudesse decidir, o som de raízes se mexendo ecoou da clareira. Algo, ou alguém, estava despertando na ilha.

 

E Jorge, com um brilho nos olhos, desapareceu no ar com uma última gargalhada ecoando pela caverna.

 

FIM

Nêrilda Lourenço
Enviado por Nêrilda Lourenço em 27/09/2024
Código do texto: T8161460
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