CONTATO
A família Melo morava em São Lázaro de Calazans, pessoas de boa índole, respeitadas, eram muito conhecidas e tinham muitos amigos. Os Melos mudaram de São Lázaro de Calazans para Umora no ano de 1997, seguindo, anos depois, para as redondezas de Timbu onde o Sr. Melo comprou uma casa e se instalou. Não muito distante da sua residência havia um poço de água limpa e fresca, que usavam para suprir suas necessidades, era comum todas as casas terem poços naquela cidade.
Na noite de 18 de setembro de 1999, por volta das nove e meia, o filho mais moço dos Melos, Carlos Melo saiu em direção à fonte para ir pegar água a fim de tomar um banho. Mas, sua demora para voltar, deixou a família inquieta, então o pai, seguindo os passos iniciais do filho, gritou por ele sem obter uma resposta. O bico de luz não deixava a visão nítida em relação ao terreiro, ele não viu nada de estranho, mas também não viu o filho em torno do poço. Foi então que ele pegou sua lanterna de metal, uma Eveready, e com seu auxílio seguiu as pegadas de Carlos. Após alguns passos em direção ao poço, o pai, interrompeu e, ficou espiando a escuridão em que estava imerso.
Porém, os passos do jovem Melo acabavam repentinamente sendo inexplicável não haver mais rastro. O pai olhou para os lados alumiando a escuridão. No céu brilhava Sirius e ali além do pequeno facho de luz da velha Eveready brilharam dois glóbulos de uma coruja. O velho ao chegar até a fonte examinou-a, mas não havia sinal de que Carlinhos ---- era assim que ele chamava o garoto ---- tivesse caído lá dentro, até porque o rastro não chegara tão próximo. Gritou pelo nome do seu caçula e o que ouviu foi um eco seguido do pio da coruja.
O amanhecer não trouxe sequer uma evidência sobre o acontecido. No chão as últimas pegadas ainda intactas.
Alguns dias depois, a senhora Melo, já depressiva, se dirigiu ao local para buscar água. Porém, segundo ela aconteceu algo anormal, quando fazia o mesmo trajeto, viu o filho, desesperada, correu em sua direção, mas estava apenas delirando. Após mais uns dias ela a cada momento tinha a impressão de ouvi-lo. Até que vencida pelo cansaço e pela emoção, saiu em uma madrugada fria e sumiu. O resto da família ficou atônita, mormente a filha Noeli que já não comia mais nada, estava somente bebendo água e café. Francimar Melo não dormia bem, trocou dia pela noite. Passava a noite em claro observando o terreiro. A investigação não achava nada plausível, pois os dois desaparecimentos não podiam ser explicados de forma lógica. Muitos dias passaram e Noeli disse ouvir sussurros compostos de vozes diferentes e que ela assimilou à sua mãe e seu irmão.
As manhãs já não eram as mesmas desde o sumiço de Carlinhos, piorou ainda mais após a matriarca Rosa surtar e também desaparecer. O velho Melo continuava firme e sem resposta, só lhe restava a doce Noeli, sua primogênita. Apesar de ficar de vigília, aos primeiros raios de sol ele ia até à cozinha ajudar a filha a preparar o café. Mas naquele dia para sua desgraça deu com a filha caída na cozinha sob uma poça de sangue, a faca ao lado banhada pela vida tirada. Há momentos em que morremos em vida e esse foi o fim do limite para aquele homem.
Se existe alguma pessoa que conhece a história e pode tentar explicar tais acontecimentos, essa pessoa é sem sombra de dúvida o velho que um dia foi um garotinho marcado por um acontecimento macabro: mas ele jaz ao lado de Noeli.