LILITU

Marcelo trabalhava quase 11 horas por dia. Era casado e tinha uma mulher e um filho. Tinha uma vida cansativa, mas promissora. Até o dia em que um colega de trabalho o convenceu a ir a um bar que, na verdade, era um bordel. Ela se aproximou, vestida com uma camisola púrpura. Parecia que ninguém tinha visto sua presença, apenas ele.

“Meu nome é Diana”, ela disse, com um sorriso enigmático. “Mas alguns me chamam de Lilitu.” Intrigado, Marcelo perguntou o que significava aquele nome. Ela começou a falar suavemente e sensualmente, como se contasse um segredo: “Sou uma entidade milenar, adorada por povos ancestrais e temida em muitas culturas: na Mesopotâmia, entre os povos hititas, no Egito Antigo, na Grécia, em Roma, entre os druidas e tribos da Ásia Central, na África e também entre bruxas do leste europeu, magos negros do Tibete da Cordilheira do Himalaia , tribos nômades da Cordilheira dos Andes e xamãs cherokees. Fui uma súcubo que testou o coração dos homens e exacerbou suas iniquidades.” Marcelo sorriu, não acreditando em nada do que tinha ouvido, bebeu seu uísque de uma só vez, franziu a testa e fechou os olhos firmemente, sentindo a bebida rasgar seu esôfago. Ela olhou para trás, ajeitou o espartilho de tom escarlate, mordeu os lábios, sorriu e estendeu as mãos a Marcelo. Eles seguiram...

Logo após o início desse encontro, eventos trágicos começaram a acontecer em sua vida. Primeiro, seu fiel cachorro, que sempre fora saudável, morreu de repente. Pouco tempo depois, sua mãe, uma mulher robusta e cheia de vida, sofreu um infarto fulminante e faleceu. Sua sogra, até então lúcida, começou a mostrar sinais de demência, gritando sempre que via Marcelo: “Maldito! Maldito!”

Helena, sua esposa, começou a enfrentar desafios, pois seu filho, Pedro, passou a sofrer de febres intensas, alucinações e ataques de epilepsia. O peso dessas preocupações logo se refletiu em Helena, que desenvolveu uma depressão profunda, emagrecendo abruptamente. Ela passou a sofrer de insônia crônica, tornou-se fumante inveterada e dependente de medicamentos e bebidas alcoólicas para tentar aliviar sua dor e exaustão.

Marcelo sentiu a culpa das maldições. O remorso corroía os ossos; ele se arrependeu, pois Helena era sua companheira desde a mocidade. Sentiu que era hora de deixar o mundo, pois ouvia a voz de Diana e gargalhadas dentro de sua mente. Seu emprego estava por um fio; a vaga de uma promoção de cargo já não era dele, mas do colega sempre incompetente e bajulador, o mesmo que o levara ao bordel.

Em uma noite, Marcelo saiu na chuva, desesperado, na convicção de atentar contra si. À esquerda, surgiu um velho cego que lhe disse: “Saiu depressa de casa e da Terra queres sair também?” Marcelo respondeu: “Não sou digno de estar aqui mais; meu filho está doente, minha esposa não levanta da cama mais.” O velho retrucou: “Se Deus quiser e se tu acreditas, na mesma velocidade que saíste de casa, volte, ajoelhe-se e peça perdão para Aquele que o criou.” Marcelo ajoelhou-se na primeira, na segunda e, até hoje, continua. O pesadelo terminou. Sua família foi restaurada e tudo voltou ao normal.

Barbosa Thiago
Enviado por Barbosa Thiago em 25/08/2024
Reeditado em 29/08/2024
Código do texto: T8137022
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