Às Sombras de Serra Dourada (conto)
Às Sombras de Serra Dourada (conto)
Eu estava de volta à estrada, deixando Roberto Silveira para trás mais uma vez, mas agora com um propósito renovado.
O velho Maverick ronronava sob mim, uma lembrança constante das razões que me trouxeram até aqui. O mapa que encontrei na cabana me deu uma nova direção, um ponto marcado com uma mão trêmula: Serra Dourada!
Serra Dourada era uma cidade ainda menor que Roberto Silveira, quase esquecida, enterrada entre montanhas e florestas densas. A poeira levantava em nuvens enquanto eu percorria a estrada de terra, e a sensação de isolamento era quase palpável.
As casas de madeira pareciam se inclinar com o peso dos anos, e os poucos rostos que vi carregavam o mesmo olhar vazio que eu tinha encontrado tantas vezes antes.
Estacionei em frente ao único bar da cidade – uma estrutura precária, com uma placa enferrujada que mal sustentava o nome “O Refúgio”. Por dentro, o lugar era escuro e mal iluminado, o cheiro de álcool velho e tabaco impregnando o ar.
Me sentei no balcão, pedindo uma cerveja enquanto meus olhos percorriam o local em busca de algo, ou alguém, que me desse a próxima pista.
Foi quando ouvi o nome que estava esperando: Roberto. O velho ao meu lado, com mais rugas do que dentes, mencionou o nome enquanto conversava com o barman. Roberto parecia ser um homem recluso, vivendo em uma casa nos limites da cidade, alguém que tinha visto mais do que gostaria. Era o tipo de pessoa que poderia saber algo.
Segui as instruções até uma casa afastada, quase engolida pela floresta ao redor. Parei o carro e desci, o som das folhas secas estalando sob minhas botas sendo o único ruído além do vento suave. Bati na porta e esperei, ouvindo o som de passos arrastados do outro lado.
Roberto era exatamente como imaginei: um homem cansado, com olhos que pareciam ter visto mais do que deveriam. Ele me olhou com desconfiança, a mesma desconfiança que eu sabia que emanava de mim. Mas havia algo em mim que ele reconheceu, algo que ele sabia que não podia ignorar.
Expliquei que estava procurando por um homem perigoso, alguém que poderia estar ligado à morte do meu pai e da minha irmã. Não dei muitos detalhes, mas o suficiente para que ele entendesse a seriedade da situação. Roberto hesitou, suas mãos trêmulas segurando a porta, como se quisesse fechá-la e esquecer que eu tinha estado ali.
"Por que eu deveria ajudar você?" ele perguntou, o tom de voz carregado de amargura.
Eu podia ver a luta interna nos olhos dele. Eu sabia que ele queria ajudar, mas algo o estava segurando. Foi então que percebi que ganhar a confiança dele não seria uma questão de palavras, mas de ações.
"Porque eu posso ajudar você também," respondi, observando suas reações. "Me diga o que está acontecendo aqui, e eu prometo que vou fazer o que puder."
Ele me olhou por um longo momento antes de abrir a porta, me deixando entrar na casa. O interior era escuro, cheio de memórias antigas e dor. Ele me contou sobre um grupo de forasteiros que tinha chegado à cidade recentemente, homens que causavam problemas e aterrorizavam os moradores.
Parecia que eles estavam buscando algo – ou alguém.
Concordei em ajudá-lo a se livrar dos homens em troca de informações. Passamos a noite planejando, usando as sombras da cidade a nosso favor. Quando o sol começou a se pôr, estávamos prontos.
A operação foi rápida e precisa. Eu usei as habilidades que aprendi no exército para neutralizar os homens, garantindo que nunca mais voltariam a incomodar ninguém.
Quando tudo acabou, Roberto me levou até um esconderijo que eles usavam – um galpão abandonado na floresta. Lá, entre latas de comida e garrafas vazias, encontrei algo que fez meu coração acelerar: uma foto antiga, com o mesmo homem que Roberto descreveu, ao lado de alguém que eu conhecia muito bem – o assassino de meu pai e minha irmã.
Roberto me contou o que sabia, mas ainda não era suficiente para localizar o homem que eu procurava. Mas agora, eu tinha mais uma peça do quebra-cabeça, e mais um motivo para continuar minha busca.
Deixei Serra Dourada ao amanhecer, com a cidade ainda adormecida.
O caminho à frente ainda estava coberto de sombras, mas eu estava mais perto de encontrar a luz. Sabia que, a cada cidade que eu passasse, estaria mais perto do fim – seja ele qual fosse.