Retorno ao Sertão (conto)
Carlos Menezes, 40 e poucos anos
estava em sua oficina, mexendo na velha Caravan 1978, quando seu telefone tocou. A princípio, ele ignorou o som irritante, preferindo o conforto familiar das ferramentas em suas mãos.
Mas algo no fundo de sua mente insistiu que ele atendesse. Relutantemente, ele limpou as mãos em um pano sujo e pegou o telefone.
"Carlos? É a Mariana," disse a voz do outro lado da linha.
Ele parou, o coração acelerando. Mariana Santos. Seu primeiro amor. "Eu preciso da sua ajuda."
A familiaridade da voz de Mariana trouxe uma enxurrada de lembranças.
Carlos sabia que ela não o procuraria se não fosse algo sério.
"O que aconteceu, Mariana?" ele perguntou, tentando manter a calma.
"Estou no sertão," ela respondeu, a voz carregada de preocupação.
"Tem acontecido uma série de homicídios por aqui. Acho que são crimes de ódio. A polícia local não está fazendo nada. Preciso de alguém em quem possa confiar."
Sem hesitar, Carlos decidiu ir. Ele sabia que a ligação de Mariana não era apenas um pedido de ajuda; era um grito de socorro. Ele pegou suas coisas e, em poucas horas, estava a caminho do interior do Brasil.
Quando Carlos chegou à pequena cidade no sertão, a tensão no ar era palpável. Mariana o encontrou na pousada, e o abraço deles foi ao mesmo tempo reconfortante e carregado de uma antiga intimidade.
"Obrigada por vir, Carlos," ela disse, com um sorriso cansado.
"Me conte tudo," ele pediu.
Mariana começou a descrever os homicídios, cada detalhe pintando um quadro sombrio de racismo e violência. As vítimas eram todas afro-brasileiras, assassinadas de formas brutais. A polícia local parecia indiferente ou, pior, cúmplice.
"Eu já vi muita coisa, Mariana," Carlos disse, tentando tranquilizá-la.
"Vamos pegar esse desgraçado."
A investigação levou Carlos e Mariana por ruas escuras e bairros abandonados.
Eles falaram com famílias enlutadas, coletaram evidências ignoradas pela polícia, e começaram a perceber um padrão nos assassinatos. Cada crime estava ligado a um antigo grupo de supremacia branca que operava na região há décadas.
Uma noite, enquanto revisavam as evidências no quarto da pousada, Mariana se virou para Carlos, lágrimas nos olhos.
"Tenho medo, Carlos. Este lugar... traz de volta memórias horríveis."
Carlos segurou a mão dela, sentindo a velha conexão entre eles.
"Vamos pegar esse cara, Mariana. Eu prometo."
Em uma noite chuvosa, Seguindo uma pista, eles encontraram o esconderijo do assassino – uma cabana isolada na caatinga. Carlos e Mariana confrontaram o homem, um ex-membro do grupo de supremacia branca que havia decidido retomar sua campanha de terror.
O confronto foi feroz, mas no final, Carlos e Mariana conseguiram dominar o assassino. Quando a polícia finalmente chegou, não teve escolha a não ser levar o homem sob custódia.
Com o assassino preso, a tensão na pequena cidade começou a diminuir. Carlos e Mariana sabiam que a batalha contra o racismo estava longe de acabar, mas ao menos, um passo importante havia sido dado.
Na despedida, Mariana abraçou Carlos com força.
"Obrigada, Carlos. Você sempre aparece quando eu mais preciso."
Ele sorriu. "Sempre estarei aqui para você, Mariana."
Enquanto Carlos dirigia para longe, ele refletiu sobre o que tinha aprendido.
O amor e a justiça eram forças poderosas, capazes de desafiar até os males mais antigos. E, de alguma forma, ele sabia que seu caminho e o de Mariana se cruzaria novamente.
Com o assassino preso, Carlos e Mariana puderam finalmente relaxar. Eles se sentaram à beira do rio, observando o sol nascer, as cores refletindo na água em um espetáculo de luz e esperança.
"Você se lembra da primeira vez que viemos aqui?"
Mariana perguntou, um sorriso suave nos lábios.
Carlos riu. "Como eu poderia esquecer? Você quase caiu no rio tentando pegar aquele peixe."
"Foi um bom dia," disse ela, pensativa.
"Foi," ele concordou.
"E agora temos um novo começo."
Mariana olhou para ele, seus olhos cheios de determinação.
"Vou continuar lutando, Carlos. Pelo que é certo. Pelas pessoas que perderam suas vidas."
"E eu estarei ao seu lado," ele prometeu.
Eles se levantaram e caminharam juntos de volta à cidade, prontos para enfrentar o que viesse a seguir.
O vento soprava levemente, trazendo consigo a promessa de dias melhores.
Enquanto se afastavam, o sol brilhava mais forte, como um farol de esperança, iluminando seu caminho.
E assim, Carlos e Mariana sabiam que, apesar das dificuldades, sempre teriam um ao outro a força para lutar por justiça.