Morrer é voltar a viver. ( EQM)

Eu, Alexandre Tito, dirigia por uma estrada sinuosa ao cair da noite, rumo à minha cidade no interior de Alagoas. Os faróis do carro iluminavam a escuridão que se estendia à frente. Eu estava cansado, o peso da semana exaustiva pressionava minhas pálpebras, mas continuava, determinado a chegar em casa. A chuva começou a cair, transformando a estrada em um perigoso espelho d'água. As gotas grossas batiam no para-brisa, dificultando a visão. Apertei o volante, tentando manter o carro sob controle.

De repente, uma curva acentuada surgiu à frente. Tentei frear, mas os pneus perderam a aderência, deslizando sobre o asfalto molhado. O carro rodopiou descontroladamente, e em um instante eterno, eu vi o guard-rail se aproximando rapidamente. O impacto foi brutal. O som metálico do carro se chocando e o vidro quebrando misturou-se com o grito que dei.

Tudo parou. Eu senti uma leveza estranha, como se todo o peso do meu corpo tivesse desaparecido. Abri os olhos, mas não estava mais no carro. Flutuava acima da cena, minha visão agora era clara e sem obstruções. Abaixo, via o carro destroçado, metal retorcido e fumaça subindo. E lá, preso entre os destroços, estava meu próprio corpo, imóvel e ensanguentado. Não estava com medo; sentia uma paz nunca antes sentida. Vi muitos carros parando e pessoas descendo dos veículos, correndo para as ruínas do meu carro. Uma senhora chorava enquanto um homem alto, de cabelos grisalhos, forçava a porta do veículo retorcido, mas sem sucesso. Eu ouvia muitas pessoas dizendo: "Ele está morto." Eu via tudo aquilo com naturalidade, me sentia muito bem, via meu corpo apenas como um boneco inanimado. Eu era aquele que observava tudo, sabia que tinha morrido, mas não sabia para onde ir. Foi quando fui sugado para cima e entrei em um local super iluminado, uma luminosidade que era mais forte do que a luz do meio-dia, mas que não incomodava; ao contrário, era muito bonito aquele ambiente. Não tinha paredes ou piso, mas a sensação era que tinha. Senti uma presença divina ao meu lado, mas não conseguia enxergá-la. Só ouvi este ser dizer: "Vá em frente." E eu fui, mas questionando: "Para onde vou?" Não sentia minha boca se movimentar, mas sabia que estava falando, e o ser de luz falava dentro de mim e eu entendia tudo.

Saí da luz e me vi dentro de uma grande biblioteca com milhares de livros em suas prateleiras douradas, parecendo ouro. O ser disse: "Aqui está escrita a história de cada ser humano que já nasceu no planeta Terra." Eu fiquei maravilhado. Senti uma vontade incontrolável de pegar um livro na prateleira, e o curioso era que o livro que peguei já estava com a metade para fora da prateleira. Era um livro azul, e no seu dorso estava escrito "Alexandre Tito" e, em seguida, uma numeração em alto relevo. O ser disse: "Abra o livro." E eu abri. O livro aberto saiu das minhas mãos e foi subindo em direção a uma das prateleiras, que era gigante, e ficando maior até se transformar em uma grande tela suspensa no ar. Ali começou a passar o filme da minha vida, do meu nascimento até o momento do acidente fatal. Vi em detalhes todas as minhas dores, decepções, conquistas e amores que tive enquanto vivi no planeta Terra. Senti as alegrias das pessoas que ajudei como se fossem elas que tivessem me ajudando e senti o sofrimento daqueles que fiz sofrer. Tudo que fiz os outros sofrerem, eu sofri na mesma medida enquanto o filme passava. Toda alegria que proporcionei, senti também.

Em um piscar de olhos, já estava em outro lugar onde todos os meus sentimentos eram bons. O ser disse: "Explore esse local, mas não olhe para trás, senão você não voltará e perderá uma segunda chance de se redimir na carne mais uma vez." Eu saí andando e comecei a ver pessoas, muitas pessoas, mas elas não interagiam comigo. Vi um casal sentado na calçada de uma enorme construção. Me aproximei e fiquei muito feliz; eram meus pais, já falecidos. Eles olhavam para mim. Pela expressão em seus olhares, estavam muito bem; aquelas angústias e preocupações que desfiguravam seus rostos quando estavam na Terra não existiam mais. Não percebi nenhum sinal de apego neles. Só me transmitiam paz. Então entendi que eles já tinham terminado com excelência sua missão como pais lá na Terra. Em um jardim muito belo e com cores nunca vistas antes por mim estavam três irmãos e muitos amigos que já tinham falecido há anos. Eles sorriram para mim e depois continuaram a cuidar daquele paraíso lindo. Nesse momento, eu não queria mais voltar. O meu guia celeste disse: "Você precisa voltar." Olhei para o céu, mas não era o mesmo céu que conhecia. Eu não consigo descrever em palavras o que vi. Andei até chegar em um grande campo gramado, mas a grama era verde, um verde uniforme. Não existiam ali pulgões ou qualquer outra coisa que afetasse aquele gramado perfeito. Ali tinha milhares de animais de estimação se enroscando nas minhas pernas, mas não nas minhas pernas porque eu era apenas consciência. Sentia o carinho do meu gato Apache, que foi meu companheiro por anos. Disse novamente: "Vou ficar, não quero ir." O ser disse: "Chegou a hora." Nisso apareceu uma grande águia que vinha do céu e me arrebatou para cima de suas costas. Como um raio, voou em uma velocidade sobrenatural e entrou no túnel de luz. Vi um grande telhado que se aproximou. A águia atravessou o teto rapidamente. Vi meu corpo entubado em uma cama, e o grande pássaro caiu em cima do meu corpo. Senti uma grande pancada. Abri os olhos e estava em um quarto de hospital. O monitor multiparamétrico começou a emitir novamente meus sinais vitais. Ouvi uma correria. Entraram na UTI duas enfermeiras e, quando me viram acordado, disseram: "É um milagre, graças a Deus. Você está bem." E eu levantei o meu polegar e, no meu coração, disse: "Nunca estive tão bem a vida está logo ali do outro lado da morte"

Alexandre Tito
Enviado por Alexandre Tito em 16/06/2024
Reeditado em 16/06/2024
Código do texto: T8087223
Classificação de conteúdo: seguro
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