Cassandra
Casei-me com uma mulher cuja beleza era quase divina. Apaixonei-me à primeira vista; seus olhos falavam e eu obedecia. Seus cabelos longos, negros e ondulados dançavam a cada movimento seu. Seu sorriso transmitia os melhores sentimentos, era sempre um convite para um prazer intenso e inevitável. Ela me conduzia a fazer suas vontades, e eu fazia, me controlava como um capitão experiente controla o leme de seu navio. Ela me manobrava de acordo com suas necessidades e desejos.
Mas a sua alma era escura e eu vivia preso na escuridão do seu espírito. Dentro dessas trevas, ela me guiava com sussurros, e seu mundo tornou-se o meu mundo. Quando eu fechava os olhos, entrava em minha mente, que estava em uma penumbra, e via dezenas de avisos que diziam: "Venha para a luz!" Sempre que eu tentava entender, um sussurro me trazia de volta àquela realidade híbrida.
Uma noite, acordei com uma vontade irresistível de ver aquela deusa ao meu lado e abraçá-la com força. Mas ela não estava lá. Imediatamente, o desamparo existencial tomou conta de mim, e a angústia apertou meu coração. Vi uma luz acesa. Levantei-me como um cervo ao ouvir o latido do perdigueiro e caminhei ansioso, ofegante e nervoso ao encontro de Cassandra.
Ela estava de frente ao nosso grande espelho, algo que nunca tinha visto antes. Seus cabelos estavam vivos e agitados, as sombras de luz delineavam as curvas de seu corpo nu. Ela se virou; seus olhos quando fitaram em mim, senti meu corpo paralisar, meu coração congelar. Então, vi meu reflexo no colossal espelho, transformado em um ídolo de pedra.
No instante em que nossos olhares se cruzaram, percebi a verdadeira natureza de Cassandra. Ela não era apenas uma mulher de beleza divina; era uma criatura antiga, uma sedutora cujos encantos aprisionavam a alma. Seus olhos brilhavam com um poder que eu nunca havia compreendido antes.
Enquanto eu me tornava pedra, imobilizado por sua maldição, entendi que a escuridão de seu espírito havia me engolido por completo. Cassandra aproximou-se do espelho e, com um sorriso triste, tocou a superfície fria. Seus dedos traçaram linhas invisíveis no vidro, criando um vínculo entre nós que não poderia ser quebrado.
Com um último olhar de súplica, meus olhos se fecharam para sempre, aprisionados em um corpo de pedra. E assim, enquanto Cassandra se afastava, eu permaneci ali, uma estátua imutável, testemunha eterna de sua beleza e do poder devastador de sua alma sombria.