Túmulos sem vida
O temor da morte me conduziu ao cemitério
numa madrugada em que a lua não fulgurava no céu,
enquanto as nuvens se deslocavam céleres sobre minha cabeça.
Angustiado e atormentado pela incerteza do destino que nos aguarda,
perambulava pelas ruas sombrias e desoladas,
onde a vida parecia ausente.
Ao alcançar o deteriorado portão da cidade dos mortos,
parecia que a única vida que pulsava naquela solidão era a minha.
Adentrei, ainda que desprovido de coragem,
mas nutrindo o desejo de desvendar o desconhecido.
O velho cemitério ainda preservava seus túmulos desgastados,
adornados com estátuas de Jesus de braços abertos,
Maria de mãos postas e anjos em posturas melancólicas e reverentes.
Entre alguns sepulcros e covas abandonadas, esquecidas pelo tempo,
não restavam nem mesmo vestígios de lembranças.
As cruzes sem nomes e datas denotavam a ausência de memória.
Os jazigos mais recentes ostentavam fotografias e mensagens de saudade,
enquanto outros, em ruínas, eram agora refúgio para ratos e corujas.
Cães e gatos de rua repousavam entre os túmulos,
destemidos diante das supostas assombrações.
Gradualmente, minha agitação se dissipou,
até que, de súbito, o ulular de uma coruja ecoou, causando-me arrepios.
Tentei em vão discernir de qual árvore provinha aquele canto sinistro.
Percebi então que aquele não era meu lugar.
A vida, óbvia, estava do lado de fora.
Chorei, compadecendo-me de minha própria fragilidade,
enquanto meu egoísmo se desfazia.
O que possuía, a maioria dos que ali repousavam também havia possuído.
Não somos nada.
Não sabia mais o que buscar.
Nada naquele lugar poderia mudar algo.
O tempo parece congelado naquele silente recanto.
Não há preocupações, ambições; para os mortos,
a esperança não faz mais nenhum de sentido.
Ao me voltar em direção ao velho portão,
deparei-me com uma cova aberta ao lado.
Assim terminou minha experiência naquele antigo cemitério.
Alexandre Tito