O Caso dos Irmãos Toledo
- Redondezas, 10 de janeiro de 2024, aqui é o delegado Ferreira responsável pela averiguação do caso dos irmãos Toledo, a investigação segue sobre sigilo de justiça até que sejam concluídas todas as fases do processo, hoje daremos início ao depoimento da primeira testemunha, ela encontra-se acompanhada dos pais e de seu advogado, todo depoimento será registrado em áudio para em caso de eventual necessidade seja utilizado nas linhas investigativas, então peço que a testemunha inicie o seu relato identificando-se, fale-nos seu nome e sua idade.
- Meu nome é Marcos Vinícius Toledo, tenho 15 anos.
- Marcos, conte-nos o que aconteceu, peço que você relate com o máximo de detalhes, fale-nos tudo o que puder lembrar, saiba que qualquer informação pode contribuir para solucionarmos esse caso, então por favor conte-nos o que aconteceu desde o início...
- Tudo bem, senhor... Começou por volta de 3 meses, em outubro do ano passado... Era um dia normal como qualquer outro, acordei por volta das 06:15, a claridade do dia invadia o meu quarto naquele momento, isso ajudava a não enrolar tanto na cama como das outras vezes, tomei banho, coloquei meu uniforme e desci para o café da manhã, era um dos momentos que eu mais gostava, já que toda família se reunia e conversava de maneira agradável e descontraída, quando terminamos meus pais deixaram eu e o Murilo no colégio antes de irem ao trabalho. Nesse dia foi tudo normal no colégio, não aconteceu nada relevante pelo que lembro, depois que as aulas terminaram fomos ao shopping, passeamos um pouco e aproveitamos para comprar um joystick novo para o videogame, não demoramos muito por lá, chegamos em casa por volta das três da tarde, depois disso fiquei no meu quarto lendo um pouco e depois fiquei no celular, o meu irmão foi para o quarto dele...
- Quantos anos tem o seu irmão?
- 14 anos...
- Ok. Prossiga.
- Depois que jantei subi para o quarto do Murilo para jogar, como era sexta-feira, ficamos jogando até a madrugada, meu irmão era muito bom no videogame, quase todas às vezes me vencia e ficava me zoando de uma maneira infantil, porém engraçada, eu já tinha jogado muito naquela noite, minha mente precisava de um descanso e meus dedos também, resolvemos dar uma pausa, ele foi ao banheiro e eu fui tomar um ar para recarregar um pouco as energias... Os nossos quartos ficam no primeiro andar da casa e as janelas são de frente para a rua, temos uma vista de quase toda as casas até a esquina e de boa parte do bairro, naquela hora estava tudo calmo e tranquilo, olhar pela janela foi como olhar uma fotografia bela e silenciosa e isso me deixou fascinado, no entanto tive minha atenção roubada por algo bem intrigante… No meio da madrugada quase que de maneira imperceptível, observei um efêmero clarão vindo da direção da fábrica de papéis...
- Você fala da fábrica de papéis que fica no Alto da Esperança?
- Sim, senhor…
- Marcos, por volta de que horas você viu esse clarão?
- Delegado, não vou lembrar exatamente a hora, mas, com certeza, era mais de duas horas da manhã…
- Isso me soa bem estranho… Você tem certeza que veio da direção da fábrica? Pois a fábrica de papel está desativada há mais de 30 anos…
- Sim, senhor, eu tenho certeza… No momento fiquei bastante intrigado com isso…
- Continue.
- Quando aconteceu, eu parei por um instante e fiquei observando na direção de onde ele surgiu, foi algo rápido, mais ou menos uns dois segundos de duração, fiquei parado na janela tentando entender o que tinha sido aquilo, quando meu irmão retornou do banheiro, comentei com ele sobre o que tinha visto, ele com sua curiosidade nata, deixou sua imaginação criar rapidamente teorias sobre a luz misteriosa, ambos ficamos olhando pela janela, o Murilo não escondia a empolgação de poder contar para os amigos sobre o que eu tinha visto, ele queria participar de alguma forma daquele momento, como se a conquista não fosse apenas minha, mas sua também, estávamos conversando de maneira despreocupada quando um brilho rompeu novamente a escuridão, no mesmo lugar, na direção onde ficava instalada a velha fábrica, dessa vez o clarão durou por volta de uns cinco segundos, nossos rostos não escondiam o espanto e a felicidade de presenciar aquele evento, eu disse que aquilo era algo que deveríamos registrar, então o Murilo pegou o celular e começou a filmar com o zoom máximo, a gravação ficou horrível, muito escura, a fábrica era muito distante da nossa casa e câmera mal captava o que a gente via, pensei comigo, se não podemos filmar, pelo menos podemos descobrir o que era aquilo, fui no meu quarto peguei meu telescópio e foquei na direção do brilho, consegui ver com facilidade a quilômetros de distância, apesar da fábrica estar escura, a visibilidade era razoavelmente boa, vi o antigo prédio com suas paredes sujas e as imensas janelas na lateral, muitas com seus vidros quebrados, percorri por toda estrutura em busca de qualquer pista que indicasse a origem do clarão, no térreo havia muito entulho acumulado, máquinas velhas, resto de caixas, madeiras, mas nada que pudesse nos ajudar a entender, mas quando subi para o andar de cima vi o verdadeiro motivo daquelas luzes…
***pânico***
- Marcos, por favor acalme-se, você está seguro conosco, eu venho acompanhando o caso e sei o quanto é difícil para você relembrar todos esses fatos, entendo o seu nervosismo, mas não se preocupe, nada de mal vai acontecer aqui, porém peço que faça só mais esse esforço, vai ajudar bastante na nossa investigação... Ramiro, por gentileza traz uma água para o rapaz! Tudo bem, Marcos? Podemos continuar? Respira um pouco e quando estiver pronto, prossiga.
- Humm... Tô melhor agora... Podemos continuar... Então delegado... Como havia falado... No andar de cima havia umas pessoas, inicialmente fiquei surpreso, pois não esperava ver alguém em uma fábrica abandonada, sobretudo aquela hora, ainda por cima eram pessoas bem estranhas, nada convencionais, tinha dois homens altos com chapéu, terno e óculos escuros, não deu para ver muito bem os rostos deles, mas vi que tinha um formato alongado, confesso que era um tipo de rosto que eu nunca tinha visto e a pele possuía um tom cinzento, também havia outro homem, esse era mais baixo, seu corpo era muito magro, aparentava certa fragilidade e ele não possuía pêlos no rosto, sem sobrancelhas, barba ou cabelo, sua aparência era a mais estranha, seus olhos eram maiores do que o normal e na sua cabeça as veias eram aparentes, esse homem estava segurando uma pessoa que eu não consegui ver direito quem era, parecia estar desmaiada, sendo agarrada por trás, pelos dois braços. Os homens de chapéu se aproximaram e se curvaram bem próximo ao rosto dessa vítima, um de cada lado, então eles abriram a boca como se fossem gritar, ficaram parados nessa posição por um tempo, como duas estátuas, achei um tanto bizarro e fiquei confuso com aquilo, mas depois entendi o porque daquele ato esquisito... Logo depois de dentro de suas bocas, surgiu uma luz branca muito forte, muito intensa, não acreditava no que estava vendo, era como se houvesse alguma lâmpada dentro deles, a luz que eles emitiam envolveu a cabeça da pessoa desmaiada por completo, não sei o que aquilo era, mas isso fez com que ela começasse a se debater de forma muito violenta, com muita dor, eles não paravam com aquilo, enquanto o homem mais baixo apertava seus braços com mais força para ela não fugir dali...
- Marcos... Sei que você passou por uma experiência bastante traumática, seus pais contaram-me sobre isso, no entanto preciso saber se tudo que você está me contando é real…
- Sim, senhor! Eu juro por tudo que é sagrado! Juro pelos meus pais! Juro pelo meu irmão! Tudo que estou contando é verdade!
Certo, Marcos, continue…
Quando vi aquela cena cai assustado no chão, eu estava em estado de choque, o Murilo me perguntou o que eu tinha visto, mas não conseguia falar, estava paralisado de medo, ele achou que era algum tipo de brincadeira, então olhou pelo telescópio e sua reação foi tão impactante quanto a minha, ele gritou e se abaixou, meu irmão estava tremendo com o que viu, eu ainda me recuperava do nervosismo quando perguntei a ele o que tinha visto, com a respiração ofegante e um semblante de medo, falou que seja lá quem fosse aqueles homens eles viram a gente, não entendi o que ele quis dizer com aquilo, mas ele prosseguiu, no momento em que olhou tinham 3 homens em pé segurando uma pessoa aparentemente sem cabeça, todos estavam olhando exatamente para nossa direção, para nossa casa, nossa janela, e o homem mais baixo apontou o dedo para ele…
- Marcos, essas pessoas você já tinham visto antes?
- Não, delegado, nunca tinha visto.
- E depois desse dia, você viu novamente essas pessoas?
- Sim, delegado, nós vimos...
- Conte-me sobre isso.
- Duas semana depois desse ocorrido, começaram acontecer coisas estranhas com a gente, primeiro foram os nossos aparelhos eletrônicos que sempre sofriam algum tipo de interferência, a tela do celular às vezes ficava com a imagem tremida, a rede também costumava cair com frequência, o videogame parava sem explicação e a televisão costumava sair do ar e ficar com uns ruídos incomum, essas coisas eram mais constante durante à noite, próximo a hora da gente dormir… Depois eu comecei acordar durante a madrugada, sempre com a impressão de que tinha alguém no meu quarto, era uma sensação esquisita, muito real, numa dessas noite acordei com a janela do meu quarto aberta, eu tinha quase certeza que havia fechado antes de dormir, quando fui fecha-la tive a impressão de ver a silhueta de alguém na parte escura da esquina, fiquei com muito medo, comentei com o Murilo o que estava acontecendo, ele disse que coisas parecidas acontecia com ele, principalmente acordar após ouvir sons em cima da casa ou fora do seu quarto, principalmente no corredor…
- Vocês chegaram a falar com seus pais sobre o assunto?
- Não, senhor, estávamos com medo e não sabíamos se eles iam acreditar na gente...
- Entendo...
- Durante um tempo ficamos apenas com essa impressão de que os homens de preto estavam próximos, nos cercando, mas nunca vimos nada, até o dia em que o Murilo estava em casa sozinho, ele estava usando o notebook e novamente começou mais uma daquelas interferências, disse que a tela ficou distorcida e o som emitindo ruídos, tipo uma sintonia de rádio mal sintonizada, após um tempo voltou ao normal, porém a internet da casa tinha caído, então ele desceu até a sala para reiniciar o modem, mas quando chegou na sala ele foi surpreendido por uma cena aterrorizante, os dois homens de preto estavam em nossa janela encarando-o, ele gritou e chorou de medo, pois eram mais terríveis pessoalmente, tinham mais de dois metros de altura, usavam o mesmo traje: terno, óculos e chapéu, o rosto alongado e sem expressão era o mais assustador, pois dava um ar bizarro aquelas pessoas, Murilo disse que de maneira alguma eles pareciam humanos, não eram da terra, ele me ligou na hora implorando que eu voltasse para casa, repetindo descontroladamente “eles estão aqui!, Eles estão aqui na janela!”, voltei da casa do meu amigo o mais rápido que pude, quando cheguei eles já tinham sumido…
- Marcos, em que data aconteceu isso com seu irmão?
- 20 de novembro...
- Ramiro, quero que você solicite e analise todas as imagens das câmeras de segurança da região da casa dos Toledos, analise o dia 19 e o dia 21 também, precisamos de imagens dessas pessoas, coloque isso como uma das prioridades. Marcos, por favor, continue.
- Depois desse dia não tivemos mais contatos com eles, as interferências também pararam, apesar do trauma que essa visita nos causou, aos poucos fomos voltando a vida normal, sem a paranoia que era habitual, eu conseguia dormir tranquilamente noites inteiras, Murilo também estava com um aspecto bem mais saudável, conseguimos voltar a nossa rotina de estudos, videogame e sair com os amigos. No dia 24 de dezembro, véspera de Natal, recebemos vários parentes em nossa casa, tios, tias, os primos e os avós também, todos os anos meus pais organizava a ceia para a família, a casa ficava cheia e alegre, era bom rever todos e colocar a conversa em dia. Mamãe ainda estava finalizando os preparativos do jantar e contou com a ajuda das minhas tias, já meu pai e meus tios estavam na sala conversando e bebendo, nós subimos para o quarto junto com os primos, fomos para o quarto do Murilo jogar um pouco, só que por volta das 22:00 o papai chamou a gente para jantar, eu desci junto com umas primas e o Murilo desceu em seguida com os outros, enquanto estávamos na mesa preparando nossos pratos, o Rafa, nosso primo de 7 anos, disse ao Murilo que não havia desligado o videogame, pois achava muito complicado, nisso o Murilo foi até lá desligar, pouco tempo depois que ele subiu as escadas, ouvimos a porta do quarto bater com extrema força, meu pai perguntou se estava tudo bem, houve apenas silêncio, as luzes da sala de jantar oscilaram de uma maneira sutil, depois mais forte, eu tive um mal pressentimento sobre isso, foi como sentir um soco no estômago, segundos depois ouvimos um barulho pesado e abafado, como se a cama tivesse sido lançada do teto ao piso, foi um som estrondoso, todos ficaram assustados com aquele barulho, minha mãe gritou e meu pai subiu as escadas correndo, fui logo em seguida junto com tios e primos, ao chegarmos em frente ao quarto do Murilo encontramos a porta trancada, meu pai forçava o trinco, enquanto batia com o punho fechado, chamando várias vezes pelo Murilo, no entanto ele não respondia, as luzes da casa oscilaram mais uma vez, o desespero tomou conta do ambiente, nós os mais novos começamos a chorar, sentindo o desespero que tomou conta da casa, meu pai continuava a forçar a abertura da porta, porém entre as frestas surgiu um clarão forte de luz branca, fiquei apavorado e gritei de desespero, pois sabia do que se tratava aquela luz, chorei ao imaginar o sofrimento que meu irmão estava passando, tentei ajudar de alguma forma abrir a porta, empurrava, batia, mas tudo que fazia era inútil, ela não se movia um centímetro, as luzes continuavam a oscilar deixando o momento terrivelmente assustador, sobretudo quando de dentro do quarto surgiu um ruído alto e metálico, um som tão estridente que todos colocaram as mãos no ouvido ao mesmo tempo, todos gritavam de medo pelo que estava acontecendo, parecia que aquele pesadelo não tinha fim, de repente o ruído cessou junto com o clarão, as lâmpadas da casa voltaram ao normal, meu pai retomou as tentativas de abrir a porta agora com mais ímpeto, dentro do quarto não escutávamos nada, toda família chamava pelo Murilo, mas havia apenas silêncio atrás da porta, meu pai em seu último ato de desespero, tomou distância junto com meu tio, e ambos lançaram-se à porta conseguindo arrombá-la, ao entrar se deparou com o recinto em perfeito estado, não havia nada fora do lugar, tudo estava do mesmo jeito que minutos atrás, porém o Murilo havia sumido…
* O delegado Ferreira ouviu diversas testemunhas durante as investigações, principalmente as que estavam no local do incidente no dia 24 de dezembro de 2023, todos os ouvidos relataram os mesmos acontecimentos no dia do desaparecimento.
*As imagens gravadas pelas câmeras de segurança no bairro onde encontra-se a residência da família Toledo, não foram utilizados na apuração, os vídeos apresentaram falhas e ruídos, sendo impossível a averiguação através deles.
* Em 2024 o caso tomou grandes proporções quando passou a ser coberto pelas maiores redes de emissoras do país, o mistério do desaparecimento de Murilo Toledo comoveu todo Brasil, tendo diversas campanhas criadas nas redes sociais em busca de qualquer informação sobre o jovem.
* A polícia segue com as investigações, até esse momento Murilo Vagner Toledo continua desaparecido.