Cruzamento decisivo
Certo dia, numa cidade movimentada, uma mulher solitária me chamou. Estava apressado, teria uma entrevista de emprego em breve, mas resolvi parar e ouvir o que ela tinha a dizer. Quando encostou sua mão no meu ombro, senti o peso da dor. Os seus cabelos curtos e cheios de tons brancos, demonstravam a sua idade madura.
Era manhã, o sol se abria suavemente sobre nossas cabeças. Sentado no banco de uma praça, recebi um relato assustador de uma pessoa abandonada à própria sorte, vinda de outro município. Caminhava entre as pessoas e parecia um fantasma. Foi uma mulher importante, com papel de liderança em uma empresa de cosméticos. Hoje, seu vulto vagava pelas ruas de Fortaleza, perdida em seus pensamentos desconcertantes.
Seus filhos não queriam saber sobre onde ela andava. As marcas de uma fofoca fizeram abalos sísmicos que destruíram toda sua credibilidade. Quem acreditaria na voz de uma mulher? Seu destino parecia traçado. Só parecia, ela teve a sorte de me encontrar. Ou melhor dizendo, eu tive a sorte de encontrá-la. Xênia era uma mulher encantadora e fez do meu lar um lugar feliz. Nos casamos. Eu a ajudei a retomar o trabalho. Não éramos bem um casal. E nem havia toques sensuais em nossa relação. Se completamos apenas pela companhia um do outro. Eu dormia na sala e ela no quarto.
Assistíamos séries, filmes, um pouco de novela. Tudo me levava a crer que a vida não necessitava de mais nada, além de sermos apenas nós mesmos. Íamos ao shopping, à praia, à balada. Mas tudo mudou quando, uma manhã, antes de ir trabalhar, fui surpreendido com um homem batendo na porta de casa. Ele usava terno, gravata, paletó, calças e sapatos sociais e óculos escuros.
Começou perguntando sobre Xênia, depois proferiu acusações graves contra a minha mulher. Eu apenas sorri. O convidei a entrar, tomar um café conosco. Quando ele se sentou na cadeira da cozinha, ela apareceu e se assustou com aquela presença. Observei seu desconforto. Mas o homem começou a ficar sonolento, após tomar o chá. Quando ele acordou, já estava amarrado em uma cadeira, com os olhos arregalados, olhando para nós dois. Não queríamos machucá-lo, mas também não poderíamos deixar livre alguém que mente tanto sobre alguma pessoa. Ele ficaria ali até esquecer das suas incoerências. Talvez fossemos bonzinhos com ele. Não adiantava gritar, as paredes eram com proteção acústica. Era a sala onde eu fazia um podcast sobre true crimes.