MISTERIOSA NOITE FRIA
Microconto
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O vento entoava uma melodia que mais parecia um agouro numa noite fria de inverno. O bairro estava adormecido envolvido numa neblina sinistra e nem era ainda meia noite. Dava a impressão de que almas penadas estavam em côro com aquele sopro forte, uma ventania que vinha da mata que quase circundava o lugarejo. Vez ou outra via-se silhuetas fantasmagóricas em meio ao denso nevoeiro, mas era tão somente imaginação provocada pela luz fraca dos postes. Uma viv'alma sequer ousava circular nessa noite horrorosa pelas ruas ou becos da cidade, ninguém se atrevia a tamanha falta de senso, preferiam o calor de suas casas enroladas em grossos lençóis sob a claridade de lampiões ou lareiras.
Às vezes o silêncio era interrompido por supostas gargalhadas que se misturavam com o barulho do vento. Autor ou autores desse absurdo não eram vistos, reinavam a incerteza e o medo. Ecos de passos assustavam até gatos que nem imaginavam tal evento fúnebre acontecendo ali, eles saíam em desabalada carreira por entre becos escuros em busca de algum esconderijo seguro. Passou da meia noite e a madrugada chegou, mais fria do que a noite passada, mas aos poucos, com a claridade do dia que já anunciava sua chegada, tudo foi se acalmando e o vento parou de perturbar.