UM SONHO... OU NÃO

Jonas acordou aquele dia com uma inquietude no peito, uma ansiedade que o impelia a acelerar o vento na estrada, buscando aquela sensação única de liberdade que só sua moto era capaz de lhe proporcionar. Ele não sabia explicar exatamente o que acontecia quando estava sobre duas rodas, mas era como se cada curva, cada reta, o levasse para um lugar onde o tempo não existia, onde as preocupações desapareciam e apenas a adrenalina pulsava em suas veias.

Era por isso que ele decidiu levar sua amada moto até o mestre dos pintores de motos. Queria que sua paixão fosse também uma obra de arte, algo que refletisse a intensidade de suas emoções ao pilotá-la. Deixou nas mãos do artista a liberdade de expressão, confiante de que ele entenderia a alma de sua máquina.

Os dias de espera foram tortuosos para Jonas. Cada hora que passava era como se a ansiedade corroesse um pedaço de sua essência, mas ele sabia que valeria a pena quando finalmente visse o resultado final.

Quando finalmente chegou o momento de reencontrar sua moto, Jonas mal podia conter a emoção. E lá estava ela, reluzente sob a luz do sol, cada detalhe da pintura parecendo ganhar vida própria. Era como se a própria essência de Jonas estivesse ali, impressa em cores e formas que o deixavam sem palavras.

Orgulhoso de sua nova aparência, Jonas partiu pela estrada, sentindo-se como um cavaleiro moderno em sua armadura reluzente. Os olhares admirados dos outros motociclistas eram como música para seus ouvidos, alimentando ainda mais sua paixão.

Mas então veio a curva. Uma curva que ele jurava nunca ter visto antes, como se tivesse surgido do nada para testá-lo. O coração de Jonas acelerou enquanto controlava sua moto.

Terminado aquele passeio de inauguração da sua obra de arte. Ele vivia cada momento como se fosse um milagre e como um amante das estradas que só elas... as estradas poderiam entender, era essa era a essência da liberdade que tanto buscava. Se alguém um dia ver algum motociclista com a moto pintada diferente...  é o JONAS.

Neri Satter – FEVEREIRO DE 2024   -   CONTOS DO SCARAMOUCHE