MISTERIO DO TOCADOR DE FLAUTA
No topo de uma montanha esquecida pelos mapas e obscurecida pelas lendas, vivia um homem enigmático de oitenta anos. Seu nome, se é que algum dia o teve, havia se perdido nas névoas do tempo. A única coisa que os aldeões sabiam sobre ele era que ele tocava flauta todas as noites, ecoando melodias desconhecidas pelas ravinas e picos escarpados.
As pessoas da pequena vila ao pé da montanha costumavam dizer que aquele homem era mais do que parecia. Uns diziam que ele era um espírito guardião, protegendo os segredos ancestrais da região. Outros afirmavam que ele era um eremita sábio, em busca da iluminação nas profundezas das montanhas. Mas todos concordavam em uma coisa: havia um mistério oculto por trás daquela figura solitária e de sua flauta noturna.
Um jovem destemido chamado Miguel decidiu desvendar esse mistério. Movido pela curiosidade e pela necessidade de aventura, ele se aventurou pelas trilhas sinuosas e pelas encostas rochosas até alcançar o topo da montanha. Ali, ele encontrou o homem idoso, encolhido perto de uma fogueira crepitante, os dedos ágeis tocando uma melodia que parecia transcender o próprio tempo.
Miguel aproximou-se cautelosamente, observando o homem com olhos perscrutadores. O ancião sorriu, um sorriso que continha séculos de sabedoria e mistério. Sem dizer uma palavra, ele estendeu a flauta para Miguel.
Intrigado, Miguel aceitou o instrumento e começou a tocá-lo, deixando-se levar pela música que parecia emanar da própria alma da montanha. Por um instante, ele sentiu-se transportado para um lugar além da compreensão humana, um reino de sonhos e sombras onde o passado se entrelaçava com o presente.
Quando Miguel terminou de tocar, ele olhou para o ancião em busca de respostas. Mas o homem apenas sorriu enigmaticamente e apontou para o horizonte. Miguel olhou para o horizonte e quando voltou a olhar o ancião, ele tinha desaparecido. Miguel nunca voltou a sua civilização, mas o toque de flauta continuou.
Neri Satter – FEVEREIRO DE 2024 CONTOS DO SCARAMOUCHE
