Uma das coisas mais tristes de minha época de adolescente foi ter ido ao enterro de minha querida prima Dora. Tão jovem fora morrer naquele estúpido acidente de moto...! Minha tia nunca perdoou o namorado dela por aquilo. Ela que nunca foi muito com a cara daquele rapaz, o culpava pela velocidade a qual o mesmo sempre costumava andar até mesmo quando levava Dora em sua garupa. Voltamos daquele  cemitério completamente  arrasados! Até que notei que minha irmãzinha que também fora levada ao enterro trazia e escondia consigo algo que quando consegui fazê-la com que me mostrasse me espantei ao ver que era a boneca que minha prima tanto gostava. Essa boneca costumava ficar em cima da cama de minha prima e junto com outros pertences, minha tia resolvera 'enterrá-la' com ela como numa espécie de homenagem. Minha irmãzinha muito esperta conseguira dribla todos os adultos e assim 'afanar' aquela boneca que fora deixada sobre aquele túmulo. Fiquei meio 'bolado', mas como se tratava de uma criança, resolvi 'aliviar', não contrariar e fazer daquele o nosso segredinho. Os dias se passaram, mas quando visitávamos nossa tia, víamos que a dor e o luto da mesma, não passavam. Esta ainda culpava, o namorado de Dora pela morte da mesma. Este até tentava ir até a casa  dela para tornar a se desculpar, mas ela se mantinha irredutível e até mentia mandando sua empregada dizer que 'ela não estava'. Mas por outro lado, minha irmãzinha era só alegria com sua 'nova amiguinha' que batizamos de 'Dorothy' em homenagem a nossa prima. Aquela boneca apesar de velhinha, emitia algumas palavras, e com isso a 'conversa' daquelas duas conseguia até mesmo varar a madrugada, o que já nos preocupava um pouco até! Minha mãe nem imaginava de onde minha irmã trouxe Dorothy, mas se ela soubesse...  Com o tempo a brincadeira de minha irmãzinha começou a ficar cada vez mais bizarra. Ela dizia que aquela boneca era capaz de falar muito mais do que 'mamãe ou papai' quando a mesma a 'virava'. Segundo minha irmãzinha, aquela bonequinha não só falava ou interagia com ela, como também se dizia 'ser a própria Dora' que estava ali. Óbvio que não acreditei e até brinquei dizendo-lhe que levaria a boneca no 'Fantástico' se aquilo fosse verdade. E depois de não suportar mais as insistência da pequena, resolvi fazer um teste para ver se a boneca 'falava comigo'. E é claro, ela não falou! Desapontada, minha irmãzinha quase quebrou a mesma batendo com ela contra a sua caminha. E eu então tentei acalmá-la tomando Dorothy de sua mão, mas também acabei notando que as feições daquela boneca estranhamente estava 'lembrando' as da nossa falecida prima. Mas não liguei, porém minha mãe também estava preocupada com aquele estranho 'chamego' de minha irmã com sua nova amiguinha. E foi quando em uma nova visita a minha tia, que esta contou para a minha mãe que em uma visita que fizera ao túmulo de Dora, a boneca que se encontrava ali havia sumido. Minha tia deu descrição de tal brinquedo e logo a minha mãe juntou as coisas. E sendo assim, após uma pequena bronca e algumas conversas, apesar de um ensaio de 'chororô' da minha irmãzinha, com promessas de que ela ganharia uma outra amiguinha, minha mãe conseguiu convencê-la a devolver Dorothy para minha tia. E com a alegria de minha tia ao ter aquela boneca de volta, logo minha irmãzinha conseguiu esquecê-la e assim se juntar com novas bonecas para novas brincadeiras ou travessuras. E assim nossa vida seguiu. Até que em um certo dia, minha tia procura minha mãe aos prantos dizendo que numa noite ao arrumar o quarto de Dora e mexer em Dorothy, a mesma disse que a boneca começou a falar com ela onde pedia para que não se assustasse, dizendo-lhe que 'ali estava a Dora' e que esta se apossou daquela boneca para poder contar para ela e os outros familiares que  Sérgio, seu namorado, não teve culpa por aquele acidente, ela que turrona como sempre fora, chegou até a brigar com ele para não usar o capacete que poderia 'estragar o seu penteado'. E usando aquela boneca falante, Dora também pediu para que ela o perdoasse e que usando tal brinquedo foi ela quem chamou a minha irmãzinha no cemitério para que a mesma a levasse consigo.   

 

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