PEDALANDO NA ESTRADA DA SOLIDÃO
O vento cortava a noite como uma lâmina afiada, e as estradas escuras se estendiam à frente de Bernardo como um desafio silencioso. Ele havia pedalado incansavelmente por 100 quilômetros, os músculos cansados e a mente flutuando entre a exaustão e a determinação. Seu destino, uma aventura audaciosa de 150 km, estava prestes a levá-lo a lugares desconhecidos.
A lua lançava sua luz prateada sobre o asfalto quando, à distância, uma figura solitária surgiu. Bernardo acelerou para alcançar o outro ciclista, um companheiro noturno na estrada deserta. Ao se aproximarem, Bernardo cumprimentou com um aceno, e os dois seguiram juntos, compartilhando o silêncio que só os ciclistas noturnos conhecem.
À medida que o céu escurecia, eles avistaram uma cabana isolada à beira da estrada. A decisão de pernoitar ali foi mútua, movida pela necessidade de abrigo contra a noite gélida que se aproximava. Entretanto, ao chegarem à cabana, encontraram-na deserta, como se o tempo tivesse congelado naquele lugar.
"Será que alguém mora aqui?" Bernardo perguntou, olhando para as janelas fechadas e a porta entreaberta.
Seu novo amigo de estrada deu de ombros, sugerindo que entrassem. A cabana era modesta, mas o calor das madeiras que a compunham proporcionava algum conforto. Eles decidiram passar a noite ali, compartilhando histórias e risadas para afastar o frio da solidão.
Ao amanhecer, Bernardo acordou com a luz pálida do sol filtrando pelas frestas da cabana. Estendeu a mão para acordar seu amigo noturno, mas só encontrou vazio. Uma sensação estranha apertou seu peito quando percebeu que estava sozinho.
"Amigo? Onde você está?" ele chamou, mas o silêncio era sua única resposta.
Bernardo vasculhou a cabana e a área circundante, mas não havia sinal de seu companheiro de estrada. Será que ele era uma ilusão da noite, um eco passageiro na jornada de Bernardo?
Intrigado e um pouco desapontado, Bernardo retomou sua jornada solitária. Pedalando para longe da cabana, ele se perguntava se seu amigo noturno tinha sido real ou apenas um espectro da solidão da estrada.
A cada quilômetro, Bernardo pensava nas possibilidades. Teria sido tudo um sonho? Um encontro casual na noite que o deixou com mais perguntas do que respostas. O ciclista solitário, continuou sua jornada na estrada, onde cada curva esconde mistérios e cada pedalada é um passo em direção ao desconhecido.
Neri Satter – Novembro de 2023 - CONTOS DO SCARAMOCHE