O defunto gigante.

Os grãos de areia escorriam a cada passo dado, dando lugar a outros. Era esse o caminho do deserto: a mudança constante do nada. Percorria esse vão e tinha o sol a despedir-se bem no horizonte. As mãos acima dos olhos e o andar lento, as dificuldades: árdua caminhada em direção à luz; mas tanto tempo passado que vem a dúvida: há mesmo um fim ou um sofrimento perdido? Esquálido e em sufoco, não era alento a noite, alívio do calor, ali — os sopros de gelo. Cai a escuridão violentamente e, tamanha solidão, torna-se o mundo um baú de cristais ocos. A andança, com efeito, não permanece sem algum brilho: as vestes gélidas, o abraço das areias e as colinas poéticas. Qual seria, afinal, o seu limite? Quisera quem castigar-lhe com a indefinida passagem... e para onde? Vede o vulto vetusto no vão das visagens: será ele um? Olhai sem tolice: que tesouro é uma vela firme, acesa, em pleno oceano. Quão grande há de ser alma como essa? Intrometo-me? Perdão. Segue o trajeto, cujo caminho não se sabe e passo nenhum se marca. Alguns batimentos e a respiração pesada. Tão grande é o deserto para tal ente. Languidez há? O estômago, o dorso e a cabeça: os olhos. E a chama? Além. Vaza-se o corpo, deixa-se pelo caminho para tão logo ser coberto pela areia. A vista encontra um fantasma esbranquiçado, se movendo como formiguinha, e os sopros atravessando o ser. Os novos sons são as batidas em si. Saibai: engatinhava quando iniciou essa caminhada; hoje, já caem os componentes físicos. Ninguém, porém, pense: a derrota; por simplesmente ter caído. O que se fixa nesse deserto, em verdade, pode não ser um defunto, mas sim o maior dos gigantes.

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